quinta-feira, 30 de outubro de 2008

meninas crescem mais rápido

Mark Ryden
Na cabeça, o laço vermelho.
Acima dela, o coração, entre os deuses
ora de direita, ora de esquerda.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Hoje, o tempo passou e não tive medo.
Não esperei este, nem o outro.
Há que se dá um minuto de atenção ao minuto que passa.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Quando você não relaciona o teatro a sua verdade, você o relaciona a quê?

"Cordeiro de Deus, que tirai os pecados do mundo,
tende piedade de nós"

Então, por que a morte do ator ainda é cênica?

Eu acredito no teatro da motivação, imaginação e fé. É o que eu acredito, o que eu desejo e o que eu busco para mim. Tratando com destreza estes três elementos, não tenho dúvidas de que um ator possa se comunicar com a platéia em qualquer lugar do mundo, em qualquer linguagem e/ou expressão teatral, se por ventura quiserem classificar.

O teatro é convenção. Não há teatro sem imaginação e fé e, por essência, a motivação, servindo estas duas coisas. Estes dois elementos precisam existir tanto no palco, quanto na platéia para que um espetáculo aconteça. O ator imagina e acredita. A platéia imagina e acredita. O espetáculo é sempre a junção da imaginação e crença do ator e da platéia. Tudo que um ator faz em cena só existe para suscitar a imaginação e a fé, dele, dos demais atores em cena e do público na platéia. A imaginação e a fé constroem a emoção. É com emoção que se preenche um espetáculo de teatro. É desta forma que o teatro ascende a categoria de arte.

Quem não acreditar nisto, que faça os outros tipos, que siga outros caminhos. Eu, por enquanto, quero mesmo desconhecê-los. Não tenho a pretensão do teatro mundial, tenho a pretensão do meu teatro. Do que gosto de assistir, do que eu gosto de fazer. No entanto, é bom que existam os outros, favorece o diálogo, a discussão intelectual. E o melhor: o diálogo teórico não requer uma produção concreta. Assim, qualquer artista, inclusive eu, pode dizer o que pensa e fazer apenas o que quer. Caso não, pelo menos, ainda resta a qualquer artista, inclusive a mim, a opção do não fazer. O que não existe é artista refém da arte: se não se tem liberdade de criação, não se é artista. Se não se é artista, não se faz arte. A arte não aprisiona ninguém, liberta.

Tudo isto por que quando eu vou ao teatro eu quero, pelo menos, duas coisas:
  1. O direito de poder imaginar: estou farta de vê as coisas como elas são, quero vislumbrá-las.
  2. Profissionais que vendam as suas emoções e não o seu corpo: o corpo do ator é veículo de sua arte e não produto.

PS: Um dia com calma, tempo e mais jeito, voltarei a esta digressão.

Ao artista e ao público

Quem se empresta à arte, recebe-se em dobro.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

desassossego

Procurei os meus escritos inacabados. Parar perturba.
Será mesmo preciso ser dono?
De tudo que tenho, sou eu mesmo o excesso e a falta.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

pequeno aparte

"tem tanta gente quanto conhecimento"

batendo as botas

- Quero terminar.
- O quê?
- Nossa amizade.
- Não entendi. Amizade é coisa que não termina.
- Tem certeza?
- Nós não brigamos.
- Não precisa.
- Precisa. Ou então, é o tempo.
- O tempo?
- É. Ou a falta de tempo.
- Piada.
- Mas por que isso?
- Não gosto de ver as coisas se acabando.
- Pois, eu odeio final.
- É tudo ciclo: começo, meio, fim.
- E quando sabe que está no fim?
- Quando começa a diminuir o valor.
- Perdemos o valor?
- Se não terminarmos aqui, perderemos em breve.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Epifania: uma bela manhã de 91

Eu e a minha irmã aprendemos algumas músicas juntas. Ficávamos repetindo as letras um bom tempo até memorizar. Lembro-me que foi assim, em diferentes momentos das nossas vidas, com Os barcos, Tarde em Itapuã e Aquarela, que achamos despretensiosamente nas páginas de um livro de desenho. Ficamos horas nos divertindo e cantarolando a música. O nosso dueto infantil de Aquarela teve uma inesperada carreira: um dia, a professora resolveu fazer um trabalho e o som não funcionou, fui chamar a minha irmã na sala dela e nós duas cantamos juntas para algumas turmas da 4ª série. Eu tinha 10; ela ia fazer 13 e estava na 6ª.

(...)

"E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E se faco chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá"

Aquarela

O que nos lembra

Reconhecemos na literatura, no teatro, no cinema. Atribuímos à arte, os momentos de epifania. Um fato, um acontecimento, que interrompe a rotina e revela um estado, onde os argumentos não importam, por mais que façam sentido. Nenhum aviso, nenhuma recomendação, é ela, a própria vida, afirmando-se inesperada. Há algo desesperador no presente irremediável, aquele que bem ou mal, não passa. Eterniza-se na história, compõe o passado, orienta o futuro. Então, é assim comigo e com qualquer um, de quando em quando, desde a infância. São as tragédias e as glórias, que repentinamente acontecem e nos despertam.

"Uma metade cheia, uma metade vazia
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor

É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar"


Copo Vazio - Gilberto Gil

domingo, 12 de outubro de 2008







O amor derreteu-se, deixando a água por secar.


alguém canta para mim?
preciso de música não eletrônica
estou surda
atrapalhando a pista

...

não ouvi ruído
não senti dor
o gosto só chegou no fim
quando eu já não podia impedi-lo.

decerto

sinto não questiono
deixo você ser a sua forma
não cabe a mim os planos
deixo ser sem qualificação
não são duas nem mil
as faces do vir


"Há de chegar com uma cara, uma roupa e uma palavra na boca."

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Ato de refazer

Trabalho derrubando muros. É duro, mas esta ainda é a parte mais fácil. Difícil mesmo é, depois de destruir, reconstruir.

Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/
(...)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

domingo, 5 de outubro de 2008

Foi também amor II

O amor tem passado.
Cabem, a ele, todos os pretéritos:
o perfeito, o imperfeito e o mais-que-perfeito.

Tenho para ti um "sejas feliz"

Inconsequente. O presente acontece, sem muito pensar. Vai carregando as paixões, mudando os motivos. Há tempo, eu só rio, desistindo de levar o futuro a sério. Acho mesmo que, de sorriso em sorriso, o mundo vai melhor.

Onde há bom tempo

Como ir além, se os meus sonhos já vão tão longe?
Sonhar adormece.

sábado, 4 de outubro de 2008

estado

A vida está para o sempre,
como a morte está para o nunca mais.
Há quanto tempo, de nós, está o eterno?
Antes do princípio e do fim, muito do não lembrar.
No eterno, descansa o morto.

Foi também amor

Ao amor, não cabe a eternidade.
Dele, pode-se ter apenas uma felicidade simples.

E, quando assim não for, já foi.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

nada a fazer


































(todos os poemas já foram escritos.)

"É instrutivo ver os vários retratos que fazem de nós pela vida fora. Com traços lisonjeiros ou desagradáveis, entram-nos sempre pelos olhos dentro como estranhos, a perturbar uma paz que tinha um rosto habitual, familiar, a que estávamos acostumados. À imagem tranquila, sobrepõem-se outras inquietantes que não servem no cartão de identidade, e, contudo, nos identificam publicamente mais até do que a que nele figura. É que não se trata de neutras fotografias. São perfis apaixonados, justos ou injustos, com as virtudes e os defeitos cruamente patenteados. Quem um dia nos lembrar, é por eles que nos lembra. Somos o que nós sabemos, e parecemos o que os outros dizem de nós."

Miguel Torga