sexta-feira, 29 de maio de 2009

inconstâncias

sonhei com ele por um longo tempo. e numa das partes mais interessantes do sonho, eu estava abraçada as suas pernas. só as pernas, não havia corpo. 

eram pernas sentadas, com joelhos dobrados e pés sobre o sofá. 
eu entrelaçada, descansada, sobre elas. 

foi só depois, quando virei despreocupadamente para o lado, que vi que o resto do corpo havia sumido. naquele momento, isto em nada me assustou. 

as pernas dele nos meus braços era suficiente. era completo. 

às vezes, eu sinceramente acho que um pouco basta. 

mas eu acordei. e, por toda a manhã, desejei nunca mais tê-lo.

domingo, 24 de maio de 2009

lá se vão 27

para tantos, muito. para muitos, pouco. para mim, sim. todo o tempo que tive contado nos anos do que lembro e desconheço. não dá para saber o que é toda a sua vida engavetada em números. é tudo tempo passando de tempo presente em presente. eu passei e sem saber fui criança, fui adolescente, fui adulta e sou todo o tempo dos sentidos dobrando-se aos anos do velho que, de quando em quando, pensa que enfim entendeu algo sobre o que fala. nada existe daqui para trás. nada existe daqui para frente. toda hora é ponto zero. eu e o agora presente numa caixa aberta de laço desfeito. nada a declarar. não vou contar os dias. o tempo é ritual e infinito, não passa, nem pára, somos nós engordando nossos sonhos ou emagrecendo-os. não é culpa de ninguém. nascemos sempre no dia em que o mundo começou, sem adiar o início, sem evitar o fim. eu já nasci em todos os dias 24 e, daqui a pouco, em mais tantos vou chegar como se soubesse o caminho. a quantidade é uma centelha da diferença. nascer para o sujeito é sempre singular.