segunda-feira, 31 de agosto de 2009

conto do abraço


primeiro ela o abraçou e só depois de dez segundos disse: - tchau.
ele respondeu lentamente: - tchau.
mudos, continuaram abraçados. 
ela levantou a cabeça e beijou o ombro dele. ele a beijou também. 
ela afastou o corpo um segundo e retornou: - vou ficar aqui.
ele pediu: - fica.

e assim ficaram, acalmando o coração, por tempo indeterminado.

sábado, 29 de agosto de 2009

o tempo confunde


Você tão calada e eu com medo de falar

Já não sei se é hora de partir ou de chegar

Onde eu passo agora não consigo te encontrar

Ou você já esteve aqui ou nunca vai estar

Tudo já passou, o trem passou, o barco vai

Isso é tão estranho que eu nem sei como explicar

Diga, meu amor, pois eu preciso escolher

Apagar as luzes, ficar perto de você

Ou aproveitar a solidão do amanhecer

Prá ver tudo aquilo que eu tenho que saber


A Hora do Trem Passar Raul Seixas / Paulo Coelho

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

pensamentos


- eu acho que demoro de tomar decisões porque sempre penso que as escolhas são eternas. isto é um pensamento involuntário e, para ser eufémica, bem pouco inteligente.

- passei boa parte do dia pensando que eu era velha, feia e que eu não tinha nenhuma verdade irrevogável para acreditar. 

- ontem eu não sabia o que achar e vi claramente que achar qualquer coisa sobre os mais variados assuntos não resolve nada. realmente, poucas coisas conseguem ser tão inúteis quanto a especulação e a minha opinião... enfim, opinião não é exatamente do que o mundo precisa.

- o título de vários pensamentos meus é eu perco tempo. é fato!

- tenho pensado em como deixar as coisas. há três dias, não tomo café e percebi: nem sempre a gente sente falta do que gosta. será que tem gente viva assim? eu tenho medo.

- outro incómodo (eu não estou exagerando): aqui está tudo desorganizado, tudo em todos os aspectos e eu vou colocar a culpa em meus pais. eu sei que isto é fim do poço, eu nunca culpo meus pais pelos meus defeitos, mas está muito pesado e eu não pedi para nascer.

- outra coisa, eu já entendi perfeitamente que eu não tenho motivo nenhum para estar apaixonada, mas não consigo convencer a minha imaginação.

- enfim, está triste fazer yôga. eu não paro de pensar.

à grosso modo


depois de platão, veio nietzsche. e eu, que tão pouco sei sobre ambos, creio que já compreendo o que, no mundo prático, isso precisa significar: 

- platão, meu amor, eu desejo abandonar todos os seus

[ponto]


(PS: isto é uma agressão declarada ao post abaixo!)


quarta-feira, 26 de agosto de 2009

"quem não deseja, deseja a morte"



e hoje, mais do que nunca, eu queria abraçá-lo por demoradas horas. 
no corpo compreendê-lo e ter certeza de que ele existe.
existe e apenas não imagina.


acabou o que era doce cabaré!

umas das primeiras coisas que a gente aprende quando decide ser ator é que, aconteça o que acontecer, é preciso estar lá e continuar até o fim. Quando o espetáculo começa, você lembra que existe hora, minuto e segundo e trabalha com eles, construindo o tempo e o espaço. é assim e você sabe que mesmo triste, doente, acidentada, preocupada, desmotivada, você vai em direção ao teatro, abandonar a si mesmo pelo tempo necessário. Você vai fazer isso diante de todos que estiverem lá e eles podem ser um ou todos os lugares ocupados. este é o trabalho do ator. eu mesma não acredito que ele exista sem paixão. hoje, era dia de eu fazer o meu trabalho. eu fiz tudo, mas são 20h e o espetáculo não vai começar. não importam os motivos. isso silencia. certamente, agora, não deve haver barulho algum no Cabaré do Vila. 

terça-feira, 25 de agosto de 2009

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

ainda Alice

“Você se acostumará com o tempo”, retrucou a Lagarta, e colocou o narguilé na boca, começando a fumar novamente. Desta vez, Alice esperou pacientemente até a Lagarta querer falar novamente. Depois de um ou dois minutos, a Lagarta tirou o cachimbo da boca, bocejou uma ou duas vezes e espreguiçou-se. Então desceu do cogumelo e arrastou-se para longe, simplesmente observando, ao sair: “Um lado irá fazê-la crescer e o outro irá fazê-la diminuir.”

“Um lado do quê? Outro lado do quê?”, pensava Alice consigo mesma.

Alice no País das MaravilhasLewis Carroll. 
Tradução d
e Clélia Regina Ramos

domingo, 16 de agosto de 2009

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

de uma vez:


tudo é uma questão para o tempo.
os começos e os fins.
e eu sou o meu próprio tempo passando.
eu sou o meio.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

hoje ouvi duas mulheres conversando sobre ficar mais bonita. elas estavam cheias de estratégias e com bastante dedicação. de repende, eu achei essa beleza toda tão desnecessária. quis perguntar, com real intenção de entender: - certo, digamos que vocês fiquem ainda mais bonitas. e depois? vocês vão fazer o quê com isso?

pensei, pensei e nada! tem uns três dias que estou desejando emagrecer três quilos...
só pode ser falta de atenção.

terça-feira, 11 de agosto de 2009


a paixão deitou-se ao meu lado, quase tomou o travesseiro dos meus braços. olhou-me, com sua feição de senhora, e disse:

- eu não mato, minha filha. pelo contrário, eu alimento.

eu, fraca e franca, respondi:

- então, ponha-me à mesa. encha-me o copo e o prato. já estou quase a morrer de fome.

em viagem

para todos os efeitos, eu estou viajando provavelmente até o próximo domingo. devo retornar às 22h, de um lugar distante, quase remoto, mas com água encanada, luz elétrica e internet banda larga. desta vez, vou levar o meu computador e devo conectar-me com bastante frequência, se assim desejar. lá o celular pega bem, mas certamente se cobrará taxa de deslocamento, de modo que, quem desejar, pode optar pelo envio de torpedos. perdoem-me se eu não os responder, vocês sabem que eu odeio escrever mensagens pelo celular (embora o tenha feito ultimamente...). aviso: para assuntos mais longos, por favor, mandem e-mails. no mais, até a volta e desejem-me uma boa viagem.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

silêncio, tanto silêncio
ou eu estou surda.

queria ter mergulhado no rio São Francisco
meus olhos ficaram doendo do sol daquela cidade
e ainda lacrimejam a tua água de rio com cor de mar
eu precisava e deixei alguma coisa cair no chão de areia
Petrolina
não vou mais lá e durei pouco

andei-te sensível, à luz, querendo viver no sótão com os morcegos
para permanecer calma, pendurada de cabeça para baixo, entregue ao sono dos cegos
os morcegos sonham com pescoços?
eu nem sei, Petrolina, o que cansou meu desejo...
ah, se à mim bastasse o teu pescoço e sangue quente!

domingo, 9 de agosto de 2009

meu espírito destrutivo está totalmente encarnado na figura da menina que dorme tranquila, após colocar fogo no próprio quarto.

antigamente, tinha sempre alguém para me salvar.
agora, é mesmo possível que eu queime no fogo do meu inferno.

tomara que depois passe um vento para me espalhar as cinzas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

acordei, às 3 da manhã, com frio.
ar condicionado desligado, janela fechada, cobertor pesado, temperatura normal.
eu não sonhei com nada e, desde ontem, me assusta a impressão de que perdi alguma coisa.
o silêncio me tira a crença. nada a acreditar.

domingo, 2 de agosto de 2009

on/off

eu preciso entender a relação do tempo. do meu tempo, do tempo do outro. de onde há, de onde não há espera. e, sobretudo, de onde não há pressa. já ouvi "dá tempo para tudo". mas não sou eu quem dá o tempo. nem o meu, nem o outro. por mim, eu nunca desligaria os meus aparelhos eletrônicos. dizem que é ruim para o computador, que equipamentos têm vida útil. então, desligo. economizo também energia. mas ligo assim que acordo. tudo deveria ter um botão on/off. eu também merecia não me desperdiçar tanto.

Conversações sobre Godard

Eu quase nunca escrevo os textos que gostaria, pensei em escrever vários sobre os filmes do SEMCine e, agora, parece que devo alguma coisa ao mundo. No entanto, pensando bem, não é este o meu trabalho e já disseminei bastante conversando com vários sobre o que vi, além de escrever Godard no meu twitter, depois de ter visto alguns dos seus filmes. Como o bom assunto faz durar a conversa, vou riscar algumas linhas sobre “O Desprezo”.

Na manhã de ontem, vi "O Desprezo", que, enquanto via, já me trazia a clara noção do que significava o termo obra-prima na arte. "O Desprezo" também me fez acreditar que Godard discorre por um caminho de compreensão poética que, para atingir sua potencialidade, necessita encontrar eco na experiência pessoal dos que assistem a seus filmes. Isso é comum quando se trata de arte, mas, para mim, sempre se revelou em maior ou menor grau. Assim como Tchekhov, identifiquei em Godard esta característica em grau amplamente elevado. São muitas e profundas as camadas do humano e para alcançá-las é preciso vivência e bastante atenção. Neste contexto, esclareço que esta vivência não significa idade. A idade pode ser um facilitador, já que uma pessoa mais velha, teoricamente, já teve mais oportunidades para experimentar certas sensações e situações, mas certamente o tempo de vida não é o único caminho tanto pelo fato de que certas experiências não estão profundamente atreladas à idade como pelo fato de que a experiência intelectual, advinda do contato com outras obras de arte, servem como veículo condutor para a compreensão destes níveis.

"O Desprezo" me encantou pela profundidade e unidade entre o discurso poético - sinestésico, semântico e objetivo - e a forma estética imagética, intensa e ininterrupta. Depois do filme, pensei que uma obra-prima é aquilo que se identifica como único e definitivo. De fato, eu não imagino que exista uma forma melhor para se contar aquela história e não acho que alguém possa ir mais fundo na construção de um relato sobre o aquilo. Uma obra-prima: tudo que eu vir sobre o tema daqui para frente, ainda que seja profundamente sincero, para mim será uma derivação de Godard.