domingo, 28 de fevereiro de 2010

narrativa de solidão II


felicidade é desapego.
talvez seja de sim, talvez seja de não.
na vida, a vida é a única coisa que precisa continuar.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

narrativa de solidão I

olhos com vistas ao mar. assim foi morar tua janela, de frente para as ondas. seu olho sabe a vida que as ondas significam e, bem do lado esquerdo - logo lá, do mesmo lado em que se sustentam coração e anel, há o encontro de duras águas. vontade e dificuldade.

o mar encontra tudo que há pela frente... até outro mar. ele embebe-se de todas as águas, arrasta areia, desgasta pedra.

pedras lá também estão, frente aos olhos, em terra firme maré cheia, maré vazia; ora distante, ora diante das vistas.

onde moram teus olhos, cabem navios. e cabe eu.

vai-vem vida, sem nenhum duvidar.

ser um quando for apenas um
ser dois quando for conjunto dois
ser dois e ainda ser só



Amai-vos um ao outro, mas não façais do amor um grilhão:
Que haja antes um mar ondulante entre as praias de vossas almas.
Encheis a taça um do outro, mas não bebais na mesma taça.
Dai de vosso pão um ao outro, mas não comais do mesmo pedaço.
Cantai e dançai juntos, e sede alegres, mas deixai cada um de vos estar sozinho,
Assim como as cordas da lira são separadas e, no entanto, vibram na mesma harmonia.

Dai vossos corações, mas não confieis a guarda um do outro.
Pois somente a mão da vida pode conter nossos corações.
E vivei juntos, mas não vos aconchegueis em demasia;
Pois as colunas do templo erguem-se separadamente,
E o carvalho e o cipreste não crescem a sombra um do outro.

Gilbran Khalil - O Profeta

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010


como pássaro. desejo de apenas pouso.
quietinho, penas baixas de voo cansaço.

foste assim, pairando longe ninho.
foste assim, parando passarinho.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010


não sei se no teu rosto teria sabedoria ou surpresa, ao abrir a porta e se afastar, dando-me lugar. mudo. muitas palavras poderiam escapar-lhe pelos olhos, mas todas juntas e ao mesmo tempo. eu não as compreenderia, nem se fossem ditas uma a uma. ensurdecida, mais aflição que todas as palavras juntas, entorpeceria de calma só por chegar, só por pousar os olhos nos olhos mistério. mudo. muda. entraria em teu quarto. deitaria em tua cama. e, como nua, abraçaria o seu travesseiro. para sempre e sem saber por quantas noites.



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ressaca moral


eu não posso dizer que me arrependo do que já fiz,
mas posso dizer que, às vezes, me envergonho.
bastante.


debaixo do nariz


eu não sei o que dizer sobre as obviedades.
e há sempre alguém a espera de uma resposta.
a gente coincide tanto com tanta gente.
assim se faz a lógica da atitude humana.
ver-se na ação do outro torna tudo óbvio. ululante.


sábado, 6 de fevereiro de 2010

noite


dores de cristais e vidros finos.
trincar de frágil solidão esticada ao limite.
(suspensões) (pausas) (concessões)
eu não duro. não duro tanto tempo.

eu, tu, ele


relógio tic-tac para frente, diariamente. a gente não se lê. a gente não sabe ver que horas são.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010


o que não quebrou,

portas. cofres. cristais. gavetas. tigelas. cadeiras. varais. óculos. anéis. tvs. cafeteiras. perfumes. relógios. santos. cinzeiros. controles. mesas. porta-retratos. lustres. carregadores. abajus. armários. extensões. chuveiros. canecas. livros. espelhos. pegadores. travesseiros. baldes. torneiras. azulejos. maçanetas. jarras. lâmpadas. imãs. chaves. suportes. dvds. cabides. cortinas. paredes. louças. janelas. estátuas. canetas. garrafas. fechaduras. vasos. lastros. pisos. jogos. botões. ventiladores. telefones.

parou de funcionar.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

2 em fevereiro



fevereiro abre caminho
areia branca, leve ninar
salve o sol da minha mãe rainha,
outro vento, novo céu, além mar.