quinta-feira, 15 de abril de 2010


a estação da chuva trouxe beija-flores aos arredores da minha janela. há dias, tenho os observado, evitando me encantar. na verdade, eles vêm em direção à sacada da vizinha. logo acima, em sua floreira, constam vistosos girassóis. lembro-me de quando os avistei lá embaixo, do outro lado da rua. somente depois, falando com a vizinha, descobri a verdadeira natureza daquela beleza: "são de plástico!" - enquanto ela me dizia triunfante, eu entristeci. mas, em pleno outono, eles impressionam até os pássaros. dá para rir dos girassóis, dos beija-flores e também da minha pobre floreira, onde pequeninos verdes insistem em brotar, sem chamar de nenhum de nós a atenção. eu compreendo, fazendo meus os outros que vêm à noite. nem na primeira vez demorei a reconhecê-los: são morcegos. estes sim se interessaram por mim. é preciso fechar a janela para mantê-los em distância. mas, um deles bem que acertou a entrada e, agora, vive a fazer - quando quer - daqui abrigo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

ontem, eu achei que esse blog não me levaria a lugar nenhum.


são tantos os pensamentos que me interrompem ao longo dos dias em enxurrada, como essa chuva de inverno e o seu vento forte entrando pela minha janela. às vezes, eu a fecho e fico com meu suor e minha fumaça. às vezes, eu a abro, deixando os respingos virarem poças, que mais tarde enxugo com guardanapos de papel. às vezes, eu apenas deixo uma brecha. e, assim, pequenina, a chuva me acompanha; e, assim, pequenina, eu acompanho ela - quase de longe, quase de perto.


ontem, enquanto passava pela orla da Barra, era como se o céu cinza chovesse sobre o mar revolto. mas não. naquele meio de momento, a chuva era passado e presságio. e eu não a precipitei. silenciosa, apenas ouvia a minha voz dizendo que eu não queria me afastar do mar. senti uma sincera felicidade de estar em minha cidade. fiquei assim, crente de que era aqui, mesmo diante desse mar revolto, que em algum lugar estaria em casa.


o inverno é uma estação. não se acabam as estações. elas se vão sozinhas e, sozinhas, também retornam. eu sei que quando viajo, carrego a minha cidade dentro de mim. não posso fugir desse inverno. desde que ele apareceu, reagi de diferentes formas, mas já tenho aceitado que ele dure o tempo que precisar. talvez eu e outros além de mim necessitem de tamanhas chuvas.


é a sede que nos diz o que fazer. ela grita e também sussurra as horas de partida. mas a gente aprende a admirar o auto-controle e passa um bom tempo raciocinando e engolindo a própria saliva antes de encher o copo. até perder a hora. no atraso, a minha sede vira aflição. lembro: vou morrer. é provável que eu quebre o copo antes mesmo de enche-lo. o copo vazio em cacos no chão não é mais copo e eu choro lembrando do seu corpo. o copo vazio em cacos no chão quase fora água, e já não poderá matar a minha sede.


é bom lembrar que sempre pode piorar. é bom lembrar que há sempre muito a fazer. depois que um copo quebra, pode-se catar os cacos, pode-se cortar os pulsos. pode-se furar um cantinho do corpo para que o remorso sangre. mas por qual canto o remorso escapa? é mesmo pelo pulso que nos escapam todas as dores?


nem as mulheres nascem sabendo sangrar. é apenas com o tempo que o corpo delas descobre. e talvez seja por isso. eu fiquei assim: crente de que é aqui, diante desse mar revolto, que algum lugar, eu posso descobrir.


sábado, 10 de abril de 2010


o silêncio depois da explosão venta radioatividade.
apenas frio. e a sobra leve.
pequeno corpo. sem alma.

sábado, 3 de abril de 2010

ele me disse tudo.


e enquanto eu em lágrimas falava, ele silenciosamente ouvia. até que numa pequena pausa minha, ele em tom grave e triste disse: eu nem sei o que dizer. eu reconheci que era mesmo assim, permanecendo por mais um tempo em minha tristeza. incrível como é difícil e, ao mesmo tempo, muito belo ouvir isso do próprio pai.