ela acordou apaixonada. há dias também vinha dormindo assim. apenas com a imagem, o espectro que lhe embriagava o coração. fechava os olhos naquele álbum de quase fotos que construíra, uma pequena sequência de sedução. olhos. boca. braços.
paixão. escapava-lhe a palavra. era uma singela confissão. eu só posso estar... só. isso só pode ser... e era tão estranho, simplesmente estar apaixonada por. e, assim, quase desacreditado, era o seu sonho e o seu sono, noites a dentro com pequenos despertares e... paixão... ele, no meio da madrugada, como o travesseiro que se arruma ao sono. era um virar e a tal imagem lhe deitando aos braços. era. mas, era só - só - quando dormia.
até que numa manhã, adoeceu e não mais despertou. ela acordou apaixonada. (que coisa desconcertante!) levantou-se da cama já doendo. quieta. suspirando a imagem da noite, que ao dia se esquecera de sumir. doente. tomou banho, café. triste. ninguém para a ela perguntar: - ih... o que é que você tem? (- patético! paixão. eu responderia com cara de doença ruim! e é, já viu cachorro apaixonado? dá pena. fica na porta, amuado, esperando o dono chegar. e o dono?! nem liga. chega mesmo é na hora que quer. paixão! é patético, doença ruim...)
e seguiu... - afinal, a paixão rende imensos, intermináveis, monólogos internos, conversas com os próprios botões - seguiu... (se eu tivesse juízo, tomava outro café, um cappuccino, fumava um mentolado, ouvia música clássica... dava. dava para aquele cara que não tira o olho de mim. isso! dava para o outro. dá para o outro é bem melhor porque eu posso até gostar... e gostar é legal. é diferente de paixão. você liga e... ri no telefone. ri, claro, sua vida não depende daquilo. você não está a-pai-xo-na-da por ele. paixão é foda, já pressupõe um filho da puta. um desgraçado. e o pior que antes ele parecia legal e tudo, nada!... quer saber? paixão destrói o caráter das pessoas...)
foi assim o dia todo, falando para si pelos cotovelos, e triste, e procurando ele em todas as esquinas... no telefone, no e-mail... (ele não tem motivo nenhum para ligar para mim... eu também... não tenho motivo nenhum para ligar para ele! eu bem que podia ligar para o outro...) deitou. só e mais cedo. novamente a sequência de imagens, quase fotos, o mesmo filme. travesseiro entre os braços. (acho que estou ficando muito sozinha estes dias...) ligou para o outro:
- oi! - sim, sou eu... - hahahahah... eu disse que ligava... tem programa pra hoje à noite? - é, tava querendo ver um filme... 21:10h. - hahahahah... ótimo, então. - até já. beijo.
pronto. saiu com o outro. foi até bom. ela gostou mesmo. e ele disse "amanhã gente se fala", quando se despediram... (duvido que ele dissesse isso...).
acordou apaixonada. triste. quase arrependida. o rapaz ligou. (tão bonzinho!). marcaram o almoço. foi bom também. ela gostou. e ele até levou uma flor para ela. (vixe, acho que ele está gostando de mim...). na despedida, outro convite:
- sábado é o aniversário de um amigo meu, vai ter uma festa na casa dele. uma galera legal...
- amanhã?
- é.
- ... (festa de amigos é muito sério já, melhor não...)
- a gente pode ir pra outro lugar se você quiser...
- e seu amigo?
- passo lá mais tarde!
- pode ser então...
no sábado, foi ótimo! chegou em casa rindo. abraçou o travesseiro com saudade e um pouco de ciúme da festa... dormiu sem rever as (quase) fotos. acordou atrasada. banho. ódio do domingo de trabalho. o dia todo, nada. (morreu?) mandou uma mensagem. resposta imediata:
- oi, não quis atrapalhar...
- se você gostasse de mim, você nem ia pensar nisso.
ele riu. ela também. uma hora depois desligaram o telefone. dormiram. acordaram atrasados. por e-mail, combinaram às 19h no cinema.
- adoro cinema hoje. é um ótimo jeito de despistar o início da semana.
- sempre achei isso! chegava a pegar sessão na hora do almoço...
dormiram. uma semana depois, acordaram juntos.
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