quando ele chegou, eu dormia. despertou-me sua presença com um certo arrepio. já não era tensão, nem calma, outra coisa me corria por dentro. mas eu permaneci deitada, como se ele não pudesse me machucar. a barriga exposta, respirando. e antes, apenas prevendo seu olhar, me cobriu a vergonha, como se ali estivesse tão nua como nasci. estancou-me. em minha direção, ergueu sua mão pálida e fria, afastando os dedos o máximo que pôde, para tocar-me o ventre. estremeci. fechei os olhos. a tempo de ouvir distante a pergunta-chave: quer ser eterna ou mortal? antes de pensar a resposta, ocorreu-me uma lágrima pelo canto do olho esquerdo. nunca soube de onde esta água vinha. levada pelo ventre quente sob a mão fria, eu, mulher corrente sem nenhum esforço, disse-lhe do meu sangue: não sou o tempo que me dá em sua noite ou em seu dia, sou o tempo que me cabe dormir e acordar. apenas para mim poderei ser eterna. vale, a minha vida, o quanto eu durar.
Roteiro inexistente para uma cena triste
Há 3 anos
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