segunda-feira, 27 de abril de 2009

sobre todas as verdades


"a verdade é resultado do encontro. 
um não encontro e é tudo mentira."


um belo dia, encontrei uma pessoa para quem, sem lembrar de escolher, digo verdadee, quase sempre, para todas as outras pessoas, dizer verdade é inútil. 

uma verdade inútil é uma verdade sem correspondência, desprovida do encontro que ignora a concordância e alcança a aceitação. toda verdade pressupõe um fim comum, um lugar onde as premissas tenham abrigo. uma verdade é inútil quando repetida sem o bom motivo, sem o bom efeito. uma verdade inútil é, de fato, uma mentira. para a existência de uma verdade, é preciso uma pessoa-destino; uma pessoa que, mesmo ao discordar, possa lhe compreender.

domingo, 26 de abril de 2009

pela última vez, o sonho.


"- te quero"
e eu despertei .
era o som distante de suas palavras ao meu ouvido
e o cheiro solitário do meu próprio desejo.

sábado, 25 de abril de 2009

uma lembrança esmaecida
uma saudade interrompida
um suspiro escapado
um escorregão em chão molhado 
uma música lá distante
uma noite rendida ao sono
uma saída com mais amigos
uma ida, outra volta

as mesmas perguntas
as mesmas respostas


a longos passos daquele dia
a vários passos do dia D
há vários dias, a vários dias

o tempo contado em horas
o tempo contado em música
o tempo contado em casa
o tempo contato em bares
o tempo desconcertado

era grito
era chamado
era partida de todo encontro
era sol
era mais brilho
era mar e água misturada

era abraço
não era beijo
não era lágrima de vaidade
nem lágrima de dois vagueiros 
eram dois olhos e a tempestade

não tive medo
não tive pena
tive uma dor da boca ao estômago
tive amor
não tive as glórias
nem tive o ponto do fim da história

quarta-feira, 22 de abril de 2009

qualquer nota explosão não-musical

nem pássaros, nem pássaros mortos
nem barulhos, nem silêncios
nem lado de fora, nem lado de dentro
nem um dia teve, nem um dia terá
nem eu achos, nem eu queros, nem eus.
apenas. ou só. ou nada. faz tanto.
o que há. o que não. faz tanta.

pratos brancos grandes decorados com comida. 
chão batido de cimento decorado. 
tudo à moda da casa. tudo à moda ruína. 
tudo à fome muda, sem alegria, dor ou beleza.

e eu sem. e cem, eu. e eu?
na pista que não passa carro
na pista  que não passa bloco
na pista com som de vácuo

se você não me segura
(me segure pelo braço)
me segura, meu amor
ou eu voarei
ou eu voarei pelos ares.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

onde vivem meus Santos

Meu girassol parece estar morto.
Vou regá-lo até entender o que é uma planta morta.


Nos próximos dias, pode ser que me ausente. Por aqui, o tempo pode não passar - rápido ou desapercebido. Vou preparar uma jangada para descer o rio. O vento me sobrou por estes dias "está faltando mar, está faltando mar" e eu não vi meu barco se afastando da baía. É hora de encontrar os braços de minha Mãe e o imenso azul das roupas Dela. É hora de apontar para a calmaria.

Chorei até o fim. Quando acordei, no fim da tarde, pela pequena janela aberta, vi o céu, belo e de natureza indiferente. Por assim entendê-lo, percebi que já não estava louca. E se havia chovido de manhã, no meio da manhã ou ao meio dia ou se toda a água fina que parecia cortar a minha pele fosse apenas sonho... Eu era lucida como aquele azul. E, como ele, eu não tinha tanta força. Por prever o tempo que ameaçava escurecer a sua beleza, novamente escorreu-me lágrimas. Eu sabia que, no escuro, também o céu teria para si as estrelas do sempre e do novo acontecer. E, provavelmente por tudo isto, tive ainda mais medo de para sempre restarmos sós.

O céu ainda claro e eu nova chuva.

O desatino pareceu-me um viver solitário.

domingo, 12 de abril de 2009

conto de páscoa: paixão e ressurreição


hoje à tarde, enquanto lia sentada no chão do quarto, reparei nela deitada ao meio da minha cama. ela dormia em paz como tem feito todas as noites desde janeiro, rendendo-se, pouco vestida e despreocupada, como uma criança ao sono calmo. linda. a via dormir e gelei quando, repentinamente, as lágrimas tomaram o meu rosto. foi acordar. de manhã, ela riu da minha indigestão, saindo do meu corpo como se nunca mais eu fosse prestar. ela dorme agarrada a mim. sobre as minhas costas, impede o mundo de me tocar. possessiva, dominadora, ciumenta. eu achava que não ia tolerar, mas acostumei a passar os dias me explicando, totalmente refém de sua feminilidade.

saí do quarto para não acordá-la. chorei alto por trinta minutos. às vezes, ela é boa quando me vê chorar, mas normalmente não é de dar consolo. fica muito impaciente. eu também, costumo chorar por tudo. e ela enlouquece, grita "você não tem nenhum senso prático" e bate a porta. eu sei. estive completamente apaixonada por ela nos últimos quatro meses. a gente se aproximou devagar, pelo meio do ano passado, mas mal nos tocamos e ela arranjou um jeito de mudar lá pra casa. eu aceitei, claro. ela me parecia tão linda.

mas aí, na quinta-feira, ela me fez uma grosseria. sei lá, ela sempre foi meio grossa mesmo. é da natureza dela. eu nunca gostei, achava até pior que o ciúme, mas gente é gente e, quase sem muito esforço, eu conseguia relevar. quinta foi estranho. tive vontade de gritar também. desejei que ela não tivesse ali, que fosse dormir em outro lugar. acho que se algum dia sentisse isso, ela me diria. mas eu, sempre fui apaixonada... não tive coragem. dormimos caladas, separadas na mesma cama. sonhei com um avião caindo. acordei cedo, o quarto estava claro e eu não sentia calor. nos últimos dias, estava acordando suada. ainda deitada - ela dormia - olhei a janela. a sexta-feira da paixão amanhecia chovendo.

fui almoçar com a minha mãe. ela foi comigo.

sábado, ela saiu de manhã bem cedo. eu acordei assustada, quando sonolenta virei e abracei o travesseiro dela. silêncio. levantei rápido e tinha um bilhete na porta da geladeira. “só volto à noite. vê se não vai se matar sem mim, hein?” ri, senso de humor ela sempre teve. fiquei em casa até o meio da tarde. deu fome, fui comer no shopping. passei no mercado para comprar café, não tinha pó em casa desde que descobri o refluxo. trouxe um ovo de páscoa. dez horas, pedi uma pizza família.

uma da manhã, ela abriu a porta e eu dei um grito no sofá. quando a reconheci era tarde, já me tremia toda. “porque você não foi dormir na cama, hein? vem cá, você comeu essa pizza toda sozinha? não acredito! você vai passar mal. porque você não tirou da mesa? será possível? e se eu não viesse? agora, EU tenho que guardar tudo...”. ela emendava uma frase na outra, mas não estava nem um pouco descontrolada. reclamando, me pegou no sofá e me levou para cama.

eu acordei péssima. gorda, com a pizza família viva dentro de mim. ela levantou das minhas costas e foi para a cozinha. quase morrendo, eu desejei saber vomitar. de lá, ela gritou “vem cá, quem tem gastrite pode comer pizza?” continuou “e se forem só oito fatias?” ela começou a rir. sentou na cama e, abrindo a embalagem, perguntou “você comprou para mim, não foi? eu não vou dividir com você. você não pode comer chocolate”.

melhorei no fim da manhã. fui para o computador, trabalhei umas três horas e, já de tarde, li alguns artigos na internet. peguei um romance e sentei no chão do quarto. tinha mais ou menos uma hora que ela estava dormindo.

quando voltei, ela tinha ligado a TV. não tinha como disfarçar meu olho inchado:

- foi este livro?
- o último conto. já está no final.
- quer que eu termine com você?
- não. deixa que depois eu termino.
- sozinha você vai chorar mais.
- acho que não. sei lá, parece que já acabou.
- então vem cá. cuidar de mim.
- mas sou eu que estou com o olho inchado...
- e daí? você fica procurando essas histórias.
- eu gosto de literatura.
- eu gosto de literatura, mas prefiro a minha própria vida.
- eu sei.
- e aí? vai viver comigo?
- tem outro jeito?
- eu posso ir embora.
- dúvido que resolva alguma coisa.
- o que resolve, então? é incrível como você não tem nenhum senso prático.
- eu sei. um dia, mudo.
- por mim, você já pode mudar. eu não tenho medo. veja: o que é vivo vai morrer e o que é vivo e não muda vai morrer do mesmo jeito.

cárcere privado

como é possível ser se o que se compreende do ser é uma determinação do ontem?

não haverá paz em reafirmar-se. não somos ou apenas somos, nem nunca, nem sempre. a intelectualidade do ser quer se saber e, sem mais perguntas, transformar-se em eterna. mas o ser é puro presente, sem futuro, sem passado. e qualquer duração não será caminho para a calma. sendo hoje, odeio-me enquanto sou ontem e desejo-me novo amanhã. mas o tempo passa e eu só me repito. apenas com muita inteligência e desapego pode-se ser, sem se encontrar. eu descobri e quero não mais saber por quanto tempo ainda saberei de mim. quero me esquecer: comigo, eu não consigo viver em paz.

terça-feira, 7 de abril de 2009

like a bird


duas coisas fazem de um bicho pássaro:

seu cantar
seu voar

provocação ao (des)equilíbrio



vou-me apaixonar. de novo.


contra-vida

um não muito grande.
você sabe o que é um não muito grande?
não. você não sabe.
e eu? eu também não. sei que nunca recebi.
mas, às vezes, basta ouvi a dor soprar nos outros para, em si, balançar.
a vida balança contra. a vida balança a favor.
sua negação não é a morte. é a ameaça da vontade.

sábado, 4 de abril de 2009

sobre arrependimento

vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha
vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha
vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha
vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha
vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha
vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha
vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha
vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha
vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha vergonha

verdade


quando a gente quer, não quer mais nada
.

corpo abrigo...


...sexual feminino-masculino gênero número grau relação dissonante hormônio instinto peso braço abraço energia transcendental limite templos físico etéreo singular luta briga sutis respira-respira-respira ação diálogo movimento palavras-sons sons-palavras discurso reativo música narração mo-vi-men-ta-ção desencontro conexão boca-bocas lágrima-suor-saliva intenção cheiro redenção mentira-dor devolução contento expiração morte ciclo bicho signo paixão abismo céu chão...

sexta-feira, 3 de abril de 2009

entre pontos

...

passou um vento
e a gente se afastou antes do fim
acontece ficar ou findar inacabado pelo tempo
afinal, nem dos inícios se tem certezas

...