domingo, 27 de dezembro de 2009


às vezes, me aflora o desejo intenso de saber onde as pessoas estão. uma pergunta que me inquieta. penso em telefonar para todas elas. uma por uma. apenas para saber. me parece absolutamente importante alcançar alguém quando lembro dele. é tão grandioso poder ouvir a voz de quem, em meu coração, por alguns instantes, sumiu para sempre.

rude


é necessário crueldade para destruir expectativas.

(- eu não estou pronta.)

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

noite feliz


noite feliz. de luzes brancas e vermelhas piscantes. de lá, um olhar amistoso, uma voz calma, uma plena quietação. mistério. eu, solta, já planejada em seus braços, respirava desejosa, como diante de ti, sua própria aparição. somente voz. ao homem, cabe contar histórias. amigável, em tom quase sincero, entoou um pequeno conto para eu dormir. - dorme, menina. - a mensagem fora como um beijo na testa. - eu quero esperar, papai. quero esperar. quero vê-lo chegar a minha janela. só hoje, a grande noite do ano. hoje, ele vem. - dorme, quando ele chegar, eu te chamo, mas agora dorme. dorme, criança. a gente aprende logo a confiar nos homens e, desde cedo, a não querer ficar só. quando eles quase não podem nos deixar, para melhor fazê-lo, aprendem bem a contar histórias. uma boa história rende sonho para uma noite inteira. meninas somos assim noite feliz. eu confiava nele, mas nem por isto obedecia. naquela noite, fechei os olhos. guardei-me sob as cobertas. era enganar primeiro ele, depois o tempo. mas, como fora bela aquela história. ela despertou em mim o sonho. este homem de maior perigo, que nos cerca com leve ninar. ele enganou-me. em seu sono, adormeci a espera. na manhã seguinte, rápido susto ao despertar. corri a casa. vão. na volta para o quarto, lá no canto da cortina, o presente. manhã clara. nem pensei em perguntar ao homem. explicação nunca é boa história. noite feliz. sentada. ele volta em 365 dias. de mim, escapa um suspiro, já sem esperança de ainda ser menina para outra vez desejá-lo encontrar.


sem despedida



Quando acordei, ele já não estava mais aqui.
É tão cruel alguém partir enquanto a gente dorme.


terça-feira, 22 de dezembro de 2009

pequenos tópicos

O Turno

enquanto faço café, espero ele. meu destino masculino. ele vem me alcançar, depois de uma má noite de sonhos da qual desperto com todas as decisões tomadas. de onde elas vêm: mal sei... bem sei...


O Mês

há meses, quase tenho pensado em o que fazer daqui para frente. é um pensamento tão desesperançoso e cansativo que fico no "quase". quase chego a várias conclusões que, na manhã seguinte, já não me servem para nada.


A Objetividade

quando tenho que decidir uma coisa pontual ultimamente, coloco a questão em meu círculo de pensamentos. ela fica flutuando levemente em minha cabeça, sem importância. por um ou dois minutos, ao longo do dia, fito-a sem emoção, lembrando-me das razões, repetindo a pergunta e, em seguida, trocando de pensamento antes de achar respostas.


A Epifania

da noite para a manhã, as decisões me aparecem com a mesma intensidade e clareza dos dias, que tanto incomodam a minha vista. uma certeza tão forte quanto a luz matinal que, com dor, me obriga a fechar os olhos e, em seguida, as cortinas. sem mais, tomo uma atitude.


A Subjetividade

certeza não é sinônimo de acerto. as decisões por vezes são equívocos. no entanto, uma decisão errada hoje para mim é como comida estragada: dá dor de barriga, mas não mata. também não me preocupo com coerência. coerência não me parece algo humano. deve prevalecer apenas em roteiros de filmes policiais ou de ação.


A Expectativa

palavra que já me parece demais.


quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

casa vazia


eu vago triste
e minha tristeza é bom sinal.
bem me fará logo breve,
de mau amor, por hora,
vagar assim.

no singular

um vento
um tempo
um lugar
uma banda
uma música
um filme
um nome
um modo
um todo
uma parte
uma complexidade
um sim
um não
uma relação
uma pausa
um ponto

quero tudo ainda tudo mais uma vez tudo
que um possa significar.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

um caso verídico

às dez da noite, uma abelha me picou. desintencionada, despreocupada, despretensiosa, a abelha distraída fez sua picada. rapidamente, a dor aguda e ardente reverberou de um canto do meu corpo. observei o ferrão, tirei-o do lugar. em alguns instantes de perdido coração, calma e ardência bombearam o meu sangue. a esta hora, abelhas não deveriam voar ao ar livre; deveriam repousar em colméias maternais.

ofende mais, a picada por equívoco sem o puro desejo de me roubar o mel.

duas baladas

tem a que acorda e a que deita
duas que em mim se fundem
conjurando, calmas, nítida confusão
elas não me deixam amplificar

(...)

mais uma mão perto
da minha mão, não sei
quanto temo? quanto sobra?
quem de mim desejará?

(...)

leve ninar

ao redor da janela, o mundo. girando, girando, sem se governar. aqui, bate um olho, meio-sorriso, um pequeno brilho já basta. vento, balance nós dois, leve ninar até. amanhã, outro tempo, descanso. ao vento-caminho andar. quero ouvido bem perto; corpo a sussurrar. ao encontro do mesmo, ao conto. ao tempo em que caberá. amanhã, outro tempo, descanso. leve ninar até. girando, girando, o mundo. ao redor da janela.

domingo, 13 de dezembro de 2009

compreensão teórica

A chave para uma boa interpretação de diálogos superficiais e profundos está na construção clara e minuciosa de respostas para duas perguntas acerca do mesmo tema:

- "Sobre o que estamos falando?"
- "Sobre o que não estamos falando?"

depois do dia

sem palavras, sem perguntas, sem respostas
noite para abraçar
por fora, por dentro, por perto
noite em suspensão. até
durar a madrugada
que não.

a madrugada não passa.
a madrugada não morre.
a madrugada no corpo.
não faz despertar,
o sol.
não faz despertar,
a lua.
não faz despertar.

qual a temperatura desse silêncio?
qual é a tua? a minha, qual é?
vamos deitar de costas. vamos deitar por cima.
vamos virar a linha. dois, um, dois. até.
a janela virar luz. a janela virar vento.
a janela ficar aberta. e incomodar.

quando for sol, lá. veja.
não temos para onde ir.
então, fica. deitado.
então, fica. de pé.
então, fica. aqui do lado.
deitado, de pé, dormindo acordado, em mim.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009


as minhas lágrimas têm um quê de irrealidade.
eu as choro interrompida. não há aqui.
tudo me dói; nada me dói.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

morada


vento janela adentro
balança os cabelos
areja o pensar
vento circula janela
afora
sopra outro vento
procura
lugar para ficar



domingo, 29 de novembro de 2009

pena

sobre as salvadoras e, ao mesmo tempo, nefastas coincidências do destino, o que dizer? sim, como um empurrão que lhe tira da frente de um carro. agradeça ao moço. reconheça, ainda tonta, poderia ter sido pior.

Flutuo um metro, tropeço, caio dois. faltou chão. faltou. e eu andando um metro e meio acima.

- feio.

por um momento, a única palavra que pude balbuciar. no oco surdo lado de dentro, no irrelevante lado de fora. feio - este negócio. feio. uma mácula coagulando o caminhar. e, depois, grosseiro. como isto tudo é tão grosseiro. sem modo, sem delicadeza. que feio. mais uma vez. não quero não. tudo soando falso, orgulhoso. antes, fosse ciúme; antes, fosse vergonha; antes, fosse medo. mas, já era. qualquer coisa. quero não. esta criança vestida para o inverno sob o sol. suando, deslocada. não tem beleza. nenhuma beleza. pobre da beleza. sufocada em vestes desnecessárias. queria eu ter partido antes de vê-la o não respirar. o não imenso que parou sobre o céu.

- pena. pena. pena.

meu mal é o lamento. mas.

- moço, eu achava tão bonito, tão bonito... tudo me brilhava os olhos. eu queria bem cuidar.

um último


este é um último credo.

no qual ponho a insistência da minha fé.

espero que possa durar suficientes linhas. e convencer a algum outro.

de fato, nada novo a declarar, mas uma nova palavra:

- fascínio.

vejo que nunca a havia escrito aqui. que isto de alguma surpresa nos encha.


continuo desejo. continuo ansiedade. continuo fogueira. continuo - sem abandonar e sem cortar - pulsos. em saltos; queda acima, queda abaixo. de olhos fechados para suportar o ardor.


este é o sétimo dia. não suporto eu descansa-lo, sem conformar-me com o como será do tempo que não dito.


(longa pausa)


por muitos erros e equívocos, entra a vida em suspensão.

não quero olha-la enquanto ela estiver no alto. muda, morta e salva.

antes que ela caia de queixo no chão, boca aberta, olhos escancarados, espatifada em mil pedaços.

creio. isso a ele assusta.


matem o não-suicida - que cumprimenta a morte do alto de sua janela, de muitas telas e nenhum vidro. alguém o empurre de lá. jogue-o vida abaixo. raiva, ódio, nojo. quero tortura-lo com beijo-vinho em corpo quente.


este. o último credo.

no qual ponho insistente a minha fé.

espero durar suficiente linha.

- fascínio.

quero mata-lo.


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

abismo


qualquer objeto em queda pode ser um corpo leve. por todo o tempo em que estiver mergulhando no ar, será infinita a sua beleza. será irremediável seu desprendimento. será evidente a sua liberdade. é a perspectiva de impacto que atribui peso ao objeto e horror à queda. mas... que tipo de objeto em queda lembra-se do chão? sente medo, angústia ou aflição por pensar que vai encontrá-lo? a queda para um objeto deve ser como um vôo livre para o pássaro. e posso até mesmo vê-lo, despencando e sorrindo, um sorriso brando de corpo que não prevê o seu destino e, apenas por isso, poderá se espatifar em paz.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

solidão


triste dor de não ser outro.

trancas



esvaziado

observei, por entre um vidro, um amigo, quando de repente, assim o vi sentando no banco do shopping. seríamos mais um encontro, mas eu não tive coração para o acaso. e embora fosse ele, que me é tão grande, não pude ir abraça-lo. e também não pude ao certo compreender-me.


meu amigo.
há tanto tempo sou uma estranha...
caminhando e carregando, no fundo dos olhos, um adeus.
sem nenhuma despedida, acabou-me o amor.
sem ele, não há nada que eu possa te dar.

domingo, 22 de novembro de 2009


existe um emaranhado de linhas finas e elásticas interligando todas as pessoas entre si. li algo sobre isto há um tempo e hoje, em um lâmpejo, pude vê-las. embora estas linhas tenham uma existência irremediável, elas são invisíveis para que as pessoas possam, mesmo interligadas, esquecerem-se uma das outras.


isto é mesmo espantoso.
o cinismo sempre fará parte do esquecimento.



meu espelho quebrou.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Meditação

Quem acreditou
No amor, no sorriso e na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz
O amor, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais
Quem no coração
Abrigou a tristeza de ver
Tudo isso se perder
E na solidão
Procurou o caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz
Quem chorou, chorou
E tanto que o seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou o caminho do amor
E a tristeza acabou

Antonio Carlos Jobim e Newton Mendonça.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

eu vou pôr a minha ansiedade no pé. e ela não me levará a lugar nenhum. é isto mesmo que quero. ficar totalmente parada, mesmo quando ela me queimar a pele. vou suportar o ardor de não decidir, de não terminar, de não começar, de não ir para frente, de não ir para trás, de permanecer. e, enquanto isto, que todos andem e se movimentem como desejarem. e que também sejam livres. isto é tudo. e o que virá depois, eu entendo que não faz parte de hoje querer saber.
eu sou assim
pequena
e quase má
(sem querer...
sem nenhum querer...)
andando entre a vida e a morte.

tudo certo como dois e dois são cinco



sábado, 14 de novembro de 2009

para você, com quem falei nos últimos 16:


Caso não tenha acompanhado pelo meu twitter, dentro de alguns dias, publicarei um novo Sala de Ensaio para registrar o meu processo criativo em teatro. Assim, falarei "aqui" sobre novos trabalhos, pesquisas e referências ligadas à construção das minhas personagens. Para organizar o conteúdo, sem misturar textos experimentais com meus estudos em teatro, este blog será fechado e uma outra URL será indexada ao www.saladeensaio.com.

Até segunda ordem, o conteúdo publicado aqui será arquivado a partir do fechamento do domínio saladeensaio.blogspot.com, que também deverá ocorrer dentro de alguns dias. Aproveito para agradecer a sua companhia! Em 16 meses de ensaio, foi bastante revelador e aprofundante compartilhar as minhas sensações por aqui. Até a mudança, fique com as minhas (provavelmente últimas) publicações e outro título: Sinto, logo existo, retirado do meu segundo post. Deste lugar, ora de chegada, ora de partida, leve contigo o que lhe couber.

Aguardo você em minha nova Sala de Ensaio!

A hora do trem passar


e eu tive tanto medo que você morresse. acidente de carro. assalto, sequestro, assassinado. queda de avião. desabamento, incêndio. infarto. eu tive tanto medo que você morresse do dia para a noite. repentinamente. eu tive tanto medo que o mundo acabasse, sem que a gente pudesse fazer nada. que fosse maior que eu, que eu não pudesse impedir. e eu chorei. e você sabe. eu mesma te dizia e abraçava quando, às vezes, com medo, eu não conseguia dormir de madrugada. uma morte. a morte que desde o primeiro choro nos é anunciada. como eu sempre tive medo. de um dia qualquer, comum, de chuva ou sol, em que no peito talvez eu, distraída, não sentisse nada. como eu tive medo do dia que, ao acordar, eu não reconheceria, mas ela, impiedosa, viria me fazer esta surpresa. sim, eu tive medo. e durante muito tempo não o compreendi. e, agora, a única coisa que não compreendo é porquê durante todos os anos eu esperei por isto. e hoje, assim, com tudo as claras, eu não consigo... evoluir.

Via Crucis


hoje, odiei a mim mesma. e isto não foi uma expressão retórica. senti um ódio profundo, agudo e crescente, que não me lembro de ter sentido por ninguém. primeiro, eu odiei os meus pés a ponto de desejar não tê-los. e como se isto fosse tão condenável: desejar não ter pés e, ao mesmo tempo, tão sincero, desejei não ter perna. nenhuma das duas. e odiei calmamente cada uma de suas partes, até os joelhos e as coxas. e por não ser sufuciente, prossegui. odiando. os meus quadris, o meu ventre, o meu sexo, os meus seios, detestando-os em seus mínimos detalhes. por longos minutos. e, ainda assim, foi pouco. então, odiei minhas unhas, uma por uma e, por não mais suportá-las, odiei os dedos, as mãos, que como os pés, num crescente de sensações parecidas, quis de nascença não tê-las. ter sido sempre, desde de muito pequena, sem mãos. um bebê, sem mãos. uma criança, sem mãos. uma menina, sem mãos. uma moça, sem mãos. uma mulher, sem mãos. e, neste momento, não era possível mais deixar de odiar. era como se apenas assim eu soubesse. e, em frações de segundos, odiei meus ombros, braços, antebraços e pescoço numa espécie de ódio que já não necessitava de tempo para se justificar. avancei para odiar o que o meu eu - no fundo de minha alma, sufocado e diminuído - teve esperança de conseguir o meu ódio parar. comecei a odiar o meu rosto num movimento terno. primeiro, o seu contorno largo, de ossos marcados. depois, a minha boca e os traços que em minha face, ela delineia em expressões de fala e outros sentidos. odiei os meus dentes e de modo muito especial, por que eles, lá atrás, em anos passados, eu tive mesmo que aprender a amar. e pensando nisso, me apareceu por fora, um meio sorriso, que me fez lembrar todos os outros; mas por naquele instante um sorriso meu não ter para mim nenhuma importância, desprezei-lhe todas as motivações e ele me pareceu um pouco desconsiderável para se odiar. assim, segui. odiando. o meu nariz, orelhas, olhos, cílios, sobrancelhas e testa. os sinais e a pele. no momento em que ia começar a odiar os meus cabelos, em nada eles me pareceram especiais e odiá-los foi para mim inaceitavelmente pouco. fui além. quis vingar-me de cada fio comum do meu corpo. e assim o meu ódio ascendeu à crueldade. e eu quis estragar os fios e, por através deles não ser capaz de sentir dor, quis arrancados, um a um e aos montes, até que viesse com eles pedaços da minha cabeça e destas feridas começassem a escorrer outros fios, calmos, de sangue. esta imagem abriu-me uma pequena brecha de liberdade. e, como um bicho com fome e desespero, eu lhe escancarei a passagem, imaginando uma lâmina muito fina a cortar-me delicadamente a face que odiei com ternura. esta lâmina, a mim, fez todos os tipos de perversidade até que cansada, ensanguentada e dormente, vinguei-me e desfaleci com o corpo quase tão morto quanto a minha alma.

vendo a minha alma morta, esta tarde, odiei a mim. presa por possui um corpo vivo. e nada além que me interessasse a partir dele viver.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

agora, a janela já está vazia.

do meu quarto, vejo um gato sentando no alto da janela de um vizinho. ora observando a casa, ora observando a rua. de cima do muro da janela do 7º andar, ele espreita o tempo. tenho reparado nele por diversas noites. lembro-me da minha aflição no primeiro dia. hoje, nem me surpreendo. lá, ele se demora hora até ouvir uma mesma resposta. eu, neste meio tempo, me distraio e no instante seguinte não o vejo mais. me assalta, o olhar repentino lançado ao chão. me desconcerto. não sei direito o quanto me culpa esta escolha. e nada dela desejo ao gato. bicho esperto. no desviar dos meus olhos, bem abaixo do meu nariz, ele decide pular. sempre para o lado de dentro. não penso. sei. o natural não necessita nenhum esforço para se fazer compreender. por fim, não este. é o outro que a mim intriga.

o tal bicho homem e...
o que faz dele capaz de contra o solo se lançar?


segunda-feira, 9 de novembro de 2009

verbo



projetar sustentar alcançar temer cair erguer apaixonar
segurar lutar bater jogar desejar enfrentar derrubar doar
tomar desprezar balançar possuir ligar dançar sufocar
atuar desalinhar decidir provocar sugar sentir trocar exigir
responder querer justificar prender largar livrar trazer tirar matar
relacionar transar dominar dobrar quebrar surpreender descansar amar
tentar desaparecer agredir afagar respeitar desistir
permitir ir deixar beijar machucar levantar gerar contentar violentar
anular arrepender discursar realizar submeter sonhar separar
conter raciocinar envolver ampliar encontrar ver suportar
ajudar respirar apagar imaginar
viver


Louise Lacavalier, a partir do blog de João Perene

domingo, 8 de novembro de 2009

doce solidão

ela é uma mulher conformada e triste, que maternalmente me abraça à noite, pondo-me a dormir. e, à luz terna do novo sol, solta em meus braços - adormecida, calma e frágil - é uma virgem bela.
e apenas minha.

sábado, 7 de novembro de 2009

manhã seguinte


o sol descansa seu laranja quentinho em minha janela.
é sua despedida.
eu sorrio e lhe abençoo a partida.
foi belo, o dia!
e, além do mais, o sol é um bom rapaz:
quando vai, sempre promete voltar.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

diários de boêmia

café, cigarro e álcool - nome de bar, sem restaurante. 
noites sem fins, sono conturbado, sonhos cansativos... 
ah! a vida não me deixa descansar à euforia de copos com gelo em corpos congelados. 

(se aqui fosse moscou, talvez não transpirássemos... ah, se aqui ainda houvesse "se mágico"!)

sobretudo, ainda não será hoje. 
sono só e profundo. 
teto, qualquer conhecido, para se ver ao acordar.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

discurso


a pior coisa que se pode aprender sobre as verdades é que elas passam.


da noite para o dia


o que liga o dia à noite é um fim. um fim de tarde.





É de imaginar bobagem
quando a gente liga na televisão
toda dor repousa na vontade
todo amor encontra sempre a solidão

todos os encontros todos os poemas
manda me avisar

todos os embates todos os dilemas
manda me avisar
manda me avisar 

eu sei
todo ser humano
pode ser um anjo

terça-feira, 3 de novembro de 2009


- cadê o doce que você trouxe pra mim?
- oxi... joguei fora.
- como assim você jogou fora?
- não era de guardar... e você disse que não queria... o que eu ia fazer?
- meu Deus, no mínimo, esperar um pouco.
- esperar!? eu não sei esperar não. 


mágica


a certeza não é fruto de elaboração. 
é a ascensão da inflamação à chama. 
uma magia que reinstala o tempo.


segunda-feira, 2 de novembro de 2009

"a vida é um tapete persa"



posso te dar o meu lado e todos os meus lados serão pouco. só. ao lado. o amor não solucionará. é ele mais um caminho. 
não é a vida concretude, é de tudo sensação. 
ar que falta, sobra e transcende cantos do corpo.
o respirar em um, dois, três... 
o respirar dos tempos do presente em conjunção. 
vida é encontro e o que em si ele revela.

sábado, 31 de outubro de 2009

relatos

em breve, perderei o gosto de olhar para o meu abismo. conheço pessoas que vão me agradecer por ter desistido de ficar louca. eu vivo mesmo antecipando os fins. e, de tanto ver as coisas resistirem às minhas foices, entendo que não tem mais fim. os fins acabaram. os meus fins não existem mais e eu mesma, com todo meu instinto assassino, não sou capaz de matar nada. eu nunca tive paz e agora também não tenho de quem tirá-la. vivo com todos os ecos em minha cabeça e nada me equilibra em cima dos meus pés. então, o que não há? vou, armada, a um consultório médico implorar ao Dr. uma pílula que me adormeça. uma pílula de mel que me corra as veias e pare meus desejos. um por um. eu quero andar e não desejar nada. o que deve ser viver em paz? não querer chegar e muito menos ao fim. eu não vou mais. já estou cega, surda e burra. sem nenhum santo vivo em que confiar. 

***

esta noite sonhei com a minha vó. não faço idéia porque a gente discutia tanto o modo como estou conduzindo a minha vida. eu não tenho discutido isto com ninguém, além de mim. a gente brigava tanto e, de fora, ouvindo a defesa que fazia da minha verdade, eu era tão equivocada quanto arrogante, achando ser suficiente. no final, a gente se abraçava com muita sinceridade. e, tirando o fato assustador de me ver em sonho falando as minhas próprias sandices, este abraço foi a coisa mais reveladora. "eu não sou mulher nenhuma. quero sufocar todos os impulsos do meu ventre fêmea". acordei pouco depois do abraço, antes ainda deu para ouvir uma pessoa que admiro concordar com o meu equívoco. isto é muito significativo, como se a vida lhe levantasse a placa "pouco se sabe de você".  acordei. na minha cabeça apareceu que ainda era sábado, que chovia, que eu não ia a praia e que a minha vó estava morta. esta última informação me veio com a lembrança do seu enterro. estranho, ela parecia viva. 

***

ainda na primeira hora da minha manhã, com fome, pijama, torradas e café, senti-me tão magra. a chuva passou, recomeçou e se foi, enquanto repetia xícaras. só me resta escrever. e, alguma hora, ligar para alguém. estou só e não sou a única, diante de mim,  muita gente assim está. e embora chorar nada resolva, as minhas lágimas não tem o menor sentido, nem fim. só querem escorrer em paz. deixo-as. quem sabe elas me ensinam sobre descontrole e desapego.

***

ainda gostaria de relatar mais alguma coisa, mas me foge à lembrança... hoje à noite, eu vou sair. e viver em paz.

 

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

extensão em qualquer sentido

da beira do meu círculo, muitas coisas me dão adeus.

 tantos são os sussurros e ao mesmo tempo

ecos

palavras que nascem no passado. 

escuto e nada alcanço com meus 
olhos

             eu vejo turvo. vultos, súplicas, mãos desfeitas. 

riscos

pingos de desejo. um todo inteiro que de mim 
se afasta. 

domingo, 25 de outubro de 2009

meios de fim

o choro se esconde por diversos lugares do meu corpo. assim, se dobro os joelhos, viro as costas ou mexo um dedo qualquer do pé, sem hora, lembrança ou pensamento, ele escapa. irrompe pelo caminho de passagem que lhe mostra o mínimo movimento. deve haver poças de água represada por todo lugar. poça de água solitária que se liberta, sem explicar nada.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"navegar é preciso..." - contava a história de helena do cais.

                                           van gogh
e assim jogou-se helena do cais
dispensando embarcação

enquanto todos já estavam de volta com olhos em suas casas
helena tinha olhos solitários presos ao horizonte

e, por ele, se precipitou
nadou, nadou, nadou
até ao mar se misturar.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

urgência


por mais que eu pare. meu sangue corre.

pouco verso

"quando eu chego em casa nada me consola"

" era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada."

"Noite de hotel 
Ódio a Graham Bell e à telefonia
(Chamada transatlântica)
Não sei o que dizer"

terça-feira, 20 de outubro de 2009

1º mito


quando ele chegou, eu dormia. despertou-me sua presença com um certo arrepio. já não era tensão, nem calma, outra coisa me corria por dentro. mas eu permaneci deitada, como se ele não pudesse me machucar. a barriga exposta, respirando. e antes, apenas prevendo seu olhar, me cobriu a vergonha, como se ali estivesse tão nua como nasci. estancou-me. em minha direção, ergueu sua mão pálida e fria, afastando os dedos o máximo que pôde, para tocar-me o ventre. estremeci. fechei os olhos. a tempo de ouvir distante a pergunta-chave: quer ser eterna ou mortal? antes de pensar a resposta, ocorreu-me uma lágrima pelo canto do olho esquerdo. nunca soube de onde esta água vinha. levada pelo ventre quente sob a mão fria, eu, mulher corrente sem nenhum esforço, disse-lhe do meu sangue: não sou o tempo que me dá em sua noite ou em seu dia, sou o tempo que me cabe dormir e acordar. apenas para mim poderei ser eterna. vale, a minha vida, o quanto eu durar. 

segunda-feira, 19 de outubro de 2009


fim de  noite, no quarto com a cama feita. só me resta apagar a luz e acender um incenso.


*** 


domingo.


eu saí e, quando voltei, na porta da geladeira, ela tinha pendurado para mim um recado:

"onde você se meteu? deixou a chave na porta. vem cá, procurei um tempão... nesta casa não tem cigarro!?" 

eu quase ia respondendo, mas. com o bilhete no chão, desviei a cabeça e acendi a luz do quarto. 


domingo, 18 de outubro de 2009

me costumei com a ventania em pleno sol.
e, hoje, enquando fechava a janela, pensei em responder ao vento:
- hoje não. mas, se fizer bom tempo, amanhã eu vou.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

                 La Crau with Peach Trees in Blossom - Van Gogh

foi assim, o vento forte que entrou hoje de manhã pela minha janela.
 fui fechar, entendendo-o como anúncio de mau tempo. 
mas não. quando olhei lá fora, o dia era de sol. 
e eu só fiquei parada, tentando compreender a ventania.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

eusócaetano


Estou no fundo do poço
Meu grito
Lixa o céu seco
O tempo espicha mas ouço
O eco 
Qual será o Egito que responde
E se esconde no futuro?
O poço é escuro
Mas o Egito resplandece
No meu umbigo
E o sinal que vejo é esse
De um fado certo
Enquanto espero
Só comigo e mal comigo
No umbigo do deserto

Só eu
Eu sozinho, só e solitário
sob a chuva da Bahia.

manhã de cinza


e eu que pensei em pelo menos odiar outubro...
outubro.
outubro será outro e eu... 
e eu?

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

aconteceu de eu ter ficado calada por um bom tempo. 

até o telefone tocar - a conversa discreta e alheia me interrompeu bruscamente. 

eu tive que falar embora não tivesse nenhuma lógica. eu falando e o ridículo crescendo a minha contradição. aquilo me soaria tão falso, se não tivesse acontecido. eu não imaginava perguntar. e enquanto pensava se perguntaria, soube que não tinha mesmo o direito. mas era o meu papel, o meu primeiro papel, o papel inicial, o papel passado. esse negócio de ser mulher e assinar o nome. foi o meu direito e, se eu esconder tudo o que pensei pelo bom tempo em estive calada, seria ele reconhecido por todos. este pensamento é uma traição. e se eu não estivesse tão confusa e com tanto medo, eu teria me condenado. ao invés  disso, fiquei com pena, vendo o quanto eu era parva. pensando em quanto a gente faz exatamente o que esperam que a gente faça. e agindo assim, a gente só surpreende quem está muito perto, porque só quem está perto imagina que somos indivíduos e que vamos agir diferente. mas eu não sei mesmo a quem surpreendi. parada, assistindo uma crise de tristeza fingir ser uma crise de territorialidade. eu quis culpar. mas de lá, o que ouvi foi tão sincero, tão singelo, tão cuidadoso. faltou-me cinismo. fiquei apenas triste, sem nenhuma violência, por um longo instante. até desejar odiar o homem bom, anjo sincero e uno, muro contra o qual se debate o meu existencialismo. esse negócio de ser mulher e passional. essa mistura que demoniza o feminino. e que eu aceitei por medo de não ficar louca, achando glorioso quando me disseram que queimei na fogueira. eu quis odiar e não fui capaz. não presto para odiar ninguém. e eu me arrependi de tê-lo coagido a me responder como a uma santa. mesmo sem tanto pecado. eu nasci sem autoridade. 

depois de ter passado mal com o novo filme de Lars Von Trier, depois de ter enfim chorado ele e a minha confusão, ficou na minha cabeça a terrível frase: a mulher sempre perde a guerra

estamos sós em nossas fogueiras. queimar é apenas desprender-se.

sábado, 10 de outubro de 2009

considerações

- a vida é um filme de Godard.
há alguns meses quero escrever esta frase. ela resistiu a tantos pensamentos que realmente me parece uma definição sensata e pertinente.

- cruel é algo que ignora o conceito de verdade e mentira; realidade e fantasia; certo e errado. 
uma coisa cruel é injustificável e insustentável por se só. a crueldade é uma atitude emocional, que despreza raciocínios lógicos, morais e éticos.

- você mata.
só para lembrar que de médico, louco e assassino todos temos muito ou pouco.

-  a superficialidade é necessária.
há algum tempo já sei que não dá para viver todas as coisas profundamente, mas agora entendo que talvez não seja possível viver nada profundamente por muito tempo. o ar acaba e qualquer bicho que submerge, precisa voltar à superfície, de vez em quando, para respirar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

rebentar

há uns meses tenho ouvido um grunido. som contínuo por dentro e por fora, que se ouve repentinamente entre os suspiros do tempo. ele vai e volta, soando alto, soando longe. há vários dias, a maior parte do tempo é grunido. e em todas as últimas vezes que o ouvi, ele me pareceu ser de dor. é tanta a minha covardia que já acordo pedindo para o tempo não suspirar. se ele andasse o dia todo, todas as horas, dentro do compasso... mas fica tanta gente no mundo insistindo para o tempo parar, que ele pára. suspira. e sou eu quem escuta um tal grunido de universo, que dói, sem saber se está por nascer ou por findar.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

a primavera diz

este ano, a primavera mandou dizer que não vem. desistiu de aflorar. 
disse que primeiro cansou-se dos outubros.  e que, agora, mesmo ele ainda estando no início, não vê tempo para chegar.
a primavera arrumou as malas, vestiu-se simples e estampada, e na hora h, nem foi, nem resolveu ficar. 
pensa parada: e até já, não vem, mas ainda se diz.

sobre blog-eu

a verdade é que eu já não quero escrever. 
eu quero abraçar um amigo.

eu
ando
descalça
...

domingo, 4 de outubro de 2009

introversão



cabeça arrumada. coração não. coração arrumado. cabeça não.
não dá para separar. eu quero separação.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

um trecho para outubro


e eu a abri por tê-la visto brilhar em envelope tímido, desconhecido. nem vaidade, nem curiosidade, nem libertinagem. uma carta singela, de papel claro letras transparentes, que logo não entendi e, então, observei suas formas por mil leituras. 


vi a carta e ela a mim, em códigos estranhos e estranhamente compreensíveis. renitência, resistência. uma mesma carta, outra em tantas leituras, que a mim pertencerá sem nada a fazer ou preservar.


carta - papel, lenço, lençol - matéria e sonho de corpo translúcido e transitório entre o que tem e o que perde lugar.



uma carta.


quinta-feira, 24 de setembro de 2009


acabei de chegar em casa. dançam na minha frente os motivos pequenos que me causam irritação. todos os dias, eu me incomodo com as mesmas coisas. só que, esta semana, eu estou indo bem. desde segunda, troquei o eixo e vou indo bem. fazendo coisas que há muito desejo e que não vão me levar a lugar algum. graça. eu não estou preocupada. nem com pressa. por mim, não passa nem mais um dia. a única coisa que eu espero agora é passar uma sexta-feira no Porto da Barra, o dia todo, tomando sol. não há pressa para o idílio. o idílio é o que não acaba. o Porto da Barra vai durar para sempre. há pouco, estava comendo broa no sofá. sem nenhuma organização. o jantar se impondo ao silêncio interno. no ar, vi pela primeira vez, provavelmente pela falta de pensamento, a tristeza suspensa. só e desconectada. para mim, tristeza é como vírus. precisa de corpo para se manifestar. dela cheguei a sentir pena, embora não tenha lhe previsto a morte. mas basta-lhe como castigo a existência suspensa, a perda geral dos sentidos. quanta pena da tristeza, pendurada no varal, sem saber se lhe secará o sol ou lavará a chuva. adiada, deixada para mais tarde como um compromisso desimportante. agora, estou comendo um amanteigado. amanhã começo a traçar um plano para curar o meu estômago. gastrite é uma coisa tão fácil de acabar. trata-se com remédio, em três meses. olho em volta. por dentro, por fora, qualquer ruído é gastrite. tudo tem remédio. tudo é muito fácil de acabar. periga, às vezes pedindo para morrer, às vezes pedindo para ficar vivo. é assim. tire da cabeça a audição e a gastrite, o vírus, a tristeza, tudo vai pairar, sem influência, sem sentido. até a gente mesmo pode, respirar pendurado, sem importâncias.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

eu responderia:


- então me sufoque, com o peso que lhe couber a vida e o corpo. 
até eu não cogitar. até eu não respirar nada, nem além.

primavera!?


Depois do inverno, a primavera. Vai correndo, menino, olhar pela janela as flores. Vai, ilumina e as guarda para a tua velhice. A primavera começou ontem.

Comentário que fiz no blog Empty Drawer,  em 25 de setembro de 2008, 
após postagem do poema Inverno, de Antônio Cícero. 

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

raya, ahava e dod

Um vídeo ao amor e suas três chamas, que constroem e mantém as relações. Aproveitando para citar Vinícius, ao amor, também desejo "que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure".


crédito (e agradecimento) para Monique, que me sugeriu numa carinhosa lembrança!

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

lá e cá

saudade bateu na porta. distraída abri, sem perguntar. mala grande, cara cansada. arrumei-lhe uma cama no cômodo vago. antes de deixar o quarto, entreguei-lhe por escrito a precaução: 

- só entre se a porta estiver aberta;
 em porta fechada, não encoste a mão. 

- durante o dia, deixe falar a mente; durante a noite, a emoção. 

terça-feira, 15 de setembro de 2009

prece da boa Morte



Oh, Morte,
Que na mesma vida mata tanto!
Não sonho eu invalidar-te.
Para ti, o meu desejo, não é de viver sempre,
É de morrer uma única vez.



para o que tem remédio...



a estranha paz de analgésicos, anestésicos, antiinflamatórios e antibióticos.



domingo, 13 de setembro de 2009

2ª lição


Após entendimento e aplicação, via experimentações práticas, do conteúdo do post anterior, inicie a segunda e, provavelmente, última lição sugerida para uma convivência harmoniosa no plano material e espiritual. Aos caracteres matemáticos, relacione a pequena mostra a seguir de símbolos de compreensão variável. A reduzida seleção possui caráter ilustrativo para fins de treinamento consciente, já que - assim como as possibilidades de combinações matemáticas - a gama de variáveis é infinita. É importante destacar que as relações simbólicas que serão experimentadas daqui para frente devem ser regidas pelas premissas matemáticas expostas na primeira lição, somente assim será possível obter sucesso em uma vivência prática. O desprezo das leis matemáticas pode gerar confusão mental, desestruturação intelectual, perda da consciência tempo-espacial, fadiga, irritabilidade, desconforto, baixa produtividade e depressão.

Mostra de Símbolos de Compreensão Variável 

➶☝❤☟↝ ↚ ⥀ ✟ ↫ ☼ ☄ ☇ ☈ ☽ ❥ ➻ ☾ ✔ ✗ ⚐ ♢ ♣ ☤ ⌰ 欠 $ ⌛ ⚇ 
➴ ☐ ☜ ♩ ☞⟳☀☆♋☌ € ₤ ☉✝ ♕☤✞⚑☦✍☪⚠✿⌧⌗㊋⠞⠫1฿♔
    ♬ ☹ ☯ ☺ ❀ ♪  ✄ ☕ ⌚ ♨ ♂♀ ♡ ♥ ⎋ ⌱ ㋼ 欩 ♞ ⚉〪

aplicação (ou explicação) matemática


Esbouço básico para entendimento matemático da vida prática

Abaixo, símbolos e raciocínios indispensáveis para a resolução de problemas, elaboração de sentenças, condutas e ideologias. Estude, aprenda, aplique e nunca mais se pergunte para que serve a matemática.


Aritmética, Cálculo e Ordenações Parciais

+ adição
-  subtração
× multiplicação
÷ divisão
∑ somatório
∏ produto
∫  integração -  em função de
f ' derivada
∝ proporcional a
= igual a
≠ diferente a
< menor a
≤ menor ou igual a
> maior a
≥ maior ou igual
≈ aproximado a
∼ semelhante a


Números

Ν  números naturais
Ζ   números inteiros
Q  números racionais
I   números irracionais
R  números reais
C  números complexos
∞  infinito
||  valor absoluto


Teoria de Conjuntos

{} ∅ conjunto vazio
{:}    notação de construção de conjuntos
⊃ ⊄  contido/não está contido
∈ ∉  pertence/não pertence
∪      união teórica de conjuntos
∩      intersecção teórica de conjuntos
\       complemento teórico de conjuntos


Definição, Lógicas e Análises

|x|  Valor absoluto de x
:=   outro nome para
:⇔ logicamente equivalente a
⇒   implicação material - se... então
⇔  equivalência material - se e só se
∧    conjunção lógica - e
∨    disjunção lógica - ou
¬    negação lógica - não
→  seta de função
!     fatorial
∴   portanto
∵    porque
∀   quantificação universal - para todos, para qualquer, para cada
∃ ∄  quantificação existencial - existe, não existe

sábado, 12 de setembro de 2009

Hamlet: última leitura


Ofélia. Meu bom senhor

Como está Vossa Alteza depois de tantos dias? 

//Cumprimento formal. Ofélia tenta manter o distanciamento.

 

Hamlet.  Muitíssimo obrigado: bem, bem, bem. 

              //Haveria certa ironia na resposta de Hamlet, devido ao tratamento formal de Ofélia quando estão sozinhos?

 

Ofélia. Alteza, tenho comigo alguns presentes teus

                Que há muito tempo desejava devolver.

                Eu te peço que os aceite agora.

 

Hamlet.  Não, não eu.

                Eu nunca vos dei nada.


 Ofélia. Honrado príncipe, sabes muito bem que sim,

                E com eles, palavras tão docemente perfumadas

                Que os enriqueceram ainda mais. Mas, agora que esse perfume se perdeu,

                Aceite-os de volta. Para  alma nobre

                Os presentes mais ricos perdem seu valor, quando cruel se mostra o doador.

                Aqui estão, alteza.  [entrega os presentes]

 Hamlet.  Há, há! És casta? 

 Ofélia. Meu senhor?

 Hamlet. És bela?

 Ofélia. O quer queres dizer, alteza?

 Hamlet. Que acaso tu sejas casta e bela, tua castidade não deve permitir-se qualquer contato com a tua beleza.

 Ofélia. Poderia a beleza, alteza, ter melhores relações do que com a castidade?

 Hamlet. Certamente. Pois o poder da beleza logo transformará o que fora castidade em alcovitaria, ao invés da força da castidade tornar a beleza em virtude. Isso outrora foi um paradoxo, mas os dias atuais provam que é verdade. Eu te amei um dia.

 Ofélia. De fato, alteza, me fizeste acreditar que sim.

 Hamlet. Pois não devia. A virtude não pode se enxertar tão profundamente em nosso velho tronco sem que nos sobre sequer algum perfume dele. Eu nunca te amei.

 Ofélia. Tanto maior foi meu engano.

Hamlet. Vai-te para um convento. Por que te tornarias uma criadora de pecadores? Eu mesmo sou razoavelmente virtuoso, e ainda assim, poderia me acusar de coisas tais, que melhor seria se minha mãe não me tivesse dado a luz.

Sou extremamente orgulhoso, vingativo, ambicioso; com mais crimes ao meu dispor do que pensamento para concebe-los, imaginação para dar-lhes forma ou tempo para comete-los.

O que fariam sujeitos como eu, se arrastando entre o céu e a terra? Somos todos uns completos patifes. Não acredites em nós.

Vai-te para um convento. – Onde está teu pai? 

//Mudança de tom. Talvez para um sussurro, para que apenas ela ouvisse.

 Ofélia. Em casa, alteza.

 Hamlet. Que as portas se mantenham fechadas sobre ele, para que não banque o idiota em nenhum lugar fora sua própria casa. Adeus.

 Ofélia. [ao lado] Oh, céus, ajudai-o!

 Hamlet. Se te casares, te dou essa praga como dote –          Mesmo sendo casta como o gelo e pura como a neve, não escaparás à calúnia. Vai-te para um conventilho, um bordel, vai! Adeus. Ou, se realmente tiveres de casar, casa com um tolo; pois os homens sábios sabem muito bem o que fazes deles. Para um bordel, vai, e rápido. Adeus!

 Ofélia. [ao lado] Oh, poderes celestiais, curai-no!

 Hamlet. Tenho ouvido também de como te pintas, muito bem. Deus te deu uma face, e fabricas outra. Tu andas requebrando e saltitando, falas como criança, dás nomes às criaturas de Deus, fazendo tua sedução se passar por ignorância. Vai-te - não agüento mais - foi isso que me deixou louco.  Eu digo que não haverá mais casamentos. Daqueles que estão casados, todos, menos um, continuarão vivos; o resto deve permanecer como está. Para um convento, vai! [sai de cena]

 Ofélia. Oh, tão nobre espírito  assim devastado!

A língua do cortesão, a espada do soldado, o olho do estudioso

A esperança e flor do belo Estado,

O espelho da moda, o molde da forma,

Admirado pelos admiráveis – tão, tão arrasado!

E eu, entre as damas, a mais abatida e miserável,

Que experimentou a doçura dos seus votos musicais,

E agora vê aquele nobre e soberano raciocínio,

Como sinos rotos a tocarem estridentes e fora de tom;

Aquela incomparável beleza e os traços da juventude

Destruídos pela loucura. Oh, pobre de mim

Ter visto o que vi, e ver o que vejo!


Ofélia morreu. Afogou-se. Ouvistes? 

Tanta pena, nenhum consolo!


Ofélia morreu

afogada na ribeira

sob peso das escolhidas vestes.