domingo, 29 de novembro de 2009

pena

sobre as salvadoras e, ao mesmo tempo, nefastas coincidências do destino, o que dizer? sim, como um empurrão que lhe tira da frente de um carro. agradeça ao moço. reconheça, ainda tonta, poderia ter sido pior.

Flutuo um metro, tropeço, caio dois. faltou chão. faltou. e eu andando um metro e meio acima.

- feio.

por um momento, a única palavra que pude balbuciar. no oco surdo lado de dentro, no irrelevante lado de fora. feio - este negócio. feio. uma mácula coagulando o caminhar. e, depois, grosseiro. como isto tudo é tão grosseiro. sem modo, sem delicadeza. que feio. mais uma vez. não quero não. tudo soando falso, orgulhoso. antes, fosse ciúme; antes, fosse vergonha; antes, fosse medo. mas, já era. qualquer coisa. quero não. esta criança vestida para o inverno sob o sol. suando, deslocada. não tem beleza. nenhuma beleza. pobre da beleza. sufocada em vestes desnecessárias. queria eu ter partido antes de vê-la o não respirar. o não imenso que parou sobre o céu.

- pena. pena. pena.

meu mal é o lamento. mas.

- moço, eu achava tão bonito, tão bonito... tudo me brilhava os olhos. eu queria bem cuidar.

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