- quer sair comigo?
- para onde?
- resposta errada.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
lembrei que ontem
quando eu fora um quadro
emudeci
procurei correspondência
dentro da minha moldura, tela e tinta.
depois, com a sala vazia,
desejei, sinceramente, ser menor.
forjei-me pintor.
no fim de tarde da praia só minha
caminhei com um macacão branco
sujo de tintas.
não havia paredes
eu fora as cores do quase acaso
no ilimitado tempo
o branco impregnado de pingos,
risco de uma mão desastrada de poucos olhos,
refez-me quadro.
assim fui. eternamente quadro.
quando eu fora um quadro
emudeci
procurei correspondência
dentro da minha moldura, tela e tinta.
depois, com a sala vazia,
desejei, sinceramente, ser menor.
forjei-me pintor.
no fim de tarde da praia só minha
caminhei com um macacão branco
sujo de tintas.
não havia paredes
eu fora as cores do quase acaso
no ilimitado tempo
o branco impregnado de pingos,
risco de uma mão desastrada de poucos olhos,
refez-me quadro.
assim fui. eternamente quadro.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
terça-feira, 24 de fevereiro de 2009
quando faz silêncio
não sou boa assassina
tenho compaixão pelo silêncio da vítima
de longe, pode parecer até crueldade
mas não é minha a culpa
é da natureza do meu desejo
eu só sei matar aos poucos.
tenho compaixão pelo silêncio da vítima
de longe, pode parecer até crueldade
mas não é minha a culpa
é da natureza do meu desejo
eu só sei matar aos poucos.
!?
Ele disse para mim:
"- A felicidade é um pássaro que pousa na descrença".
Um pequenino sorriso passou pelos meus lábios:
"- Eu não acredito em pássaros, mas que eles existem, existem."
"- A felicidade é um pássaro que pousa na descrença".
Um pequenino sorriso passou pelos meus lábios:
"- Eu não acredito em pássaros, mas que eles existem, existem."
segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009
eu amo esperando as paixões que se revelam
num pequeno faíscar.
são muitas centelhas a se separar pelo entoado brilho
entre o falso e o intenso.
pois que a paixão sempre será o encontro
o despertar do fogo até o último estalar.
há que ser lenha consumida junto,
com roda de tambores e dança de pés descalços.
não se finge, não resiste ao disfarçar. é verdade entregue.
pelos olhos, pelos poros.
num pequeno faíscar.
são muitas centelhas a se separar pelo entoado brilho
entre o falso e o intenso.
pois que a paixão sempre será o encontro
o despertar do fogo até o último estalar.
há que ser lenha consumida junto,
com roda de tambores e dança de pés descalços.
não se finge, não resiste ao disfarçar. é verdade entregue.
pelos olhos, pelos poros.
domingo, 22 de fevereiro de 2009
quase em segredo
a imaginação é um fantasma sorridente que persegue, apaixona e desespera. fantasma apenas forma, sem carne, osso e cheio de alma. com voz, olho e mãos imóveis à primeira vista. sou eu que imagino os passos do fantasma. ele vindo obstinado em minha direção. tenho paixão, tenho repulsa pelos seus passos, pelo seu não andar. de longe, de perto, passeando aqui. ele não existe. nasce, morre, dia e noite, na minha mente. eu sei, não tenho medo. de tudo que ele me faz, apenas não me assusta. às vezes, eu o vigio escondida, ele não percebe, distraído, falível, vivente. reparo seus olhos quase humanos e eles me parecem assustados. eu erro. dele, tenho compaixão.
piadinha de carnaval
3:30h - vamos esperar trio de Jau Perri e aí a gente desce atrás dele.
(...)
- é aquele?
- não. deve ser o próximo.
(...)
- é aquele?
- não. deve ser o próximo.
seis trios depois...
- é aquele?
- não. deve ser o próximo.
(...)
- é aquele?
- não. deve ser o próximo.
seis trios depois...
4:30h - Tá, a gente espera mais dois, se não vier, desistimos.
passa mais um. não passa mais nada.
5:30h - Jau, "i have to go now, i have to go now", Jau!
(para Camilo que conferiu a programação,
para o trio "Godot" de Jau Perri que não chegou nunca)
para o trio "Godot" de Jau Perri que não chegou nunca)
sábado, 21 de fevereiro de 2009
esperando Godot
vou esperar os sete dias acabar na avenida
vou esperar Godot não chegar nunca
vou esperar lá
com chuva, música e imensidão
lá, se não der sorte
pelo menos, não dá sono.
vou esperar Godot não chegar nunca
vou esperar lá
com chuva, música e imensidão
lá, se não der sorte
pelo menos, não dá sono.
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
o futuro não chega nunca
não será.
o será só se aplica às dúvidas e inexistências.
nada será.
o será nunca vai estar no presente.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
domingo, 15 de fevereiro de 2009
dueto de mãos
"(...) uma mão tímida que, de leve, tocava o meu rosto e lentamente escorregava pela minha nuca. era quase beijo aquele toque a percorrer a minha pele. era quase lágrima a sensação inebriada de querer a abraçar-me com apaixonado acalentar. sussurros de pele umedecendo a boca. melodia do ar mais vivo a cada respirar. um arrepio indefeso se entregando a morte. tudo era toque. todo o espaço, toda dimensão, todos os sentidos. tudo se tinha e ia além das desenhadas linhas. primeiro apenas ela. depois, juntas, as quatro. mãos que olhavam, ouviam, falavam. mãos que sabiam transbordar."
nascente
quem é essa que irrompe
com seu capuz bordô florido e unhas grandes?
pés descalços, mãos sem marcas e os mesmos olhos escuros.
tem voz e vontade. quase não grita e ensurdece.
quem é ela?
desmemoriada, apátrida, desmedida.
sem lágrimas, desesperos e sorrisos.
mais estranha que todos os meus retratos.
ainda assim, não quero que vá.
ainda assim, não peço que fique.
me confunde a sua alma felina, ferina.
ela não me é dependente. tem vida. e rompe.
com seu capuz bordô florido e unhas grandes?
pés descalços, mãos sem marcas e os mesmos olhos escuros.
tem voz e vontade. quase não grita e ensurdece.
quem é ela?
desmemoriada, apátrida, desmedida.
sem lágrimas, desesperos e sorrisos.
mais estranha que todos os meus retratos.
ainda assim, não quero que vá.
ainda assim, não peço que fique.
me confunde a sua alma felina, ferina.
ela não me é dependente. tem vida. e rompe.
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
idílio da beleza
nem todos estão aptos para tratar com a beleza. muitos não a reconhecem. outros cegamente a destroem. não posso condená-los. já deve ser castigo demais embrutecer. desejaria eu apenas desconhecê-los. não ver, do desencontro da beleza, morrerem as flores. se me fosse possível. se eu pudesse encontrar somente vidas com vista para o jardim.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
les extrémités
les extrémités se touchent*
se touchent
se touchent
se touchent
...
*Filosofo, sábio e escritor francês Blaise Pascal.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
Eu quis te conhecer mas tenho que aceitar
Vamos dar a despedida,
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
– Taperá,
Pode ser cruel a eternidade
Talequal o passarinho,
Eu ando em frente por sentir vontade
– Taperá,
Eu quis te convencer mas chega de insistir
Bateu asa foi-se embora,
Caberá ao nosso amor o que há de vir
– Taperá,
Pode ser a eternidade má
Deixou a pena no ninho
Caminho em frente pra sentir saudade
– Taperá...
Vamos dar a despedida,
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
– Taperá,
Pode ser cruel a eternidade
Talequal o passarinho,
Eu ando em frente por sentir vontade
– Taperá,
Eu quis te convencer mas chega de insistir
Bateu asa foi-se embora,
Caberá ao nosso amor o que há de vir
– Taperá,
Pode ser a eternidade má
Deixou a pena no ninho
Caminho em frente pra sentir saudade
– Taperá...
(Janta, Marcelo Camelo / Macunaíma, Mário de Andrade)
sábado, 7 de fevereiro de 2009
lago seco
decepção: dizem que a gente vive mesmo assim.
um bicho que passou todo tempo a salvo no verde de um lago e o vê, repetinamente, secar, ainda terá vida depois disto?
um bicho que passou todo tempo a salvo no verde de um lago e o vê, repetinamente, secar, ainda terá vida depois disto?
vi o menino do outro lado da rua.
era ele indo. eu, súbito, parei.
é assim, paixão sem o raciocinar.
quando ia atravessando, percebi.
havia no seu afastar obstinação.
talvez toda a obstinação.
(é ela que o vale e eu nunca me convenço)
valha-me Deus um dia entender.
vai menino. são tantas horas que não te deixo.
deve ser de paz, você levá-la como companheira.
"onde queres descanso, sou desejo.
onde sou só desejo, queres não."
era ele indo. eu, súbito, parei.
é assim, paixão sem o raciocinar.
quando ia atravessando, percebi.
havia no seu afastar obstinação.
talvez toda a obstinação.
(é ela que o vale e eu nunca me convenço)
valha-me Deus um dia entender.
vai menino. são tantas horas que não te deixo.
deve ser de paz, você levá-la como companheira.
"onde queres descanso, sou desejo.
onde sou só desejo, queres não."
as lembranças são como retratos que vão se desfazendo. tudo vira lembrança. aprendi a ter saudade muito cedo, sempre vendo as coisas desaparecerem no tempo. e, mesmo assim, errei. pensei que pelo menos uma coisa pudesse acompanhar a vida no tempo do eterno. eu achava que era esta a minha fé. hoje, vejo que era apenas uma esperança.
eu a tive.
e tudo mais eu tive.
agora entendo, Tristeza.
eu a tive.
e tudo mais eu tive.
agora entendo, Tristeza.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
a vida não tem solução. tem fim.
Woke up this morning Singing an old, old Beatles song We're not
that strong, my lord You know we ain't that strong I hear
my voice among others In the break of day Hey, brothers
Say, brothers It's a long long long long way
Caetano - in transa
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
literatura
Os autores sempre sabem o que as suas personagens sentem.
As personagens sempre sabem o que estão a sentir.
As personagens sempre sabem o que estão a sentir.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
sobrevida
"Excuse me, do you have time?
Oh, sorry, i meant...
what time is it?"
A Persistência do Tempo - Salvador Dalí
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Sou sentimentos. Não posso assassiná-los.
São eles a própria fôrma da minha vida.
A natureza viva como um dia de sol, como um dia de chuva.
Há que se esperar passar. Há que se deixar chegar.
Eles vão, eles vem. Não serei eu a dizer quando.
Vou ficá-los até o último instante, até o último suspiro.
Ainda que espere a morte.
São eles a própria fôrma da minha vida.
A natureza viva como um dia de sol, como um dia de chuva.
Há que se esperar passar. Há que se deixar chegar.
Eles vão, eles vem. Não serei eu a dizer quando.
Vou ficá-los até o último instante, até o último suspiro.
Ainda que espere a morte.
domingo, 1 de fevereiro de 2009
turvas
todas as mulheres são de Tchekhov
todas as mulheres são de desordenadas águas
acontecem por debaixo da pele, por dentro das saias.
todas queimam. todas ardem. todas morrem afogadas.
todas as mulheres são de desordenadas águas
acontecem por debaixo da pele, por dentro das saias.
todas queimam. todas ardem. todas morrem afogadas.
cantiga de exílio
eu não vou não vou falar
não adianta eu lhe contar
nem do meu amor eterno
nem do meu jeito de amar
ninguém pode chegar antes
da minha música entornar
só a cachoira bela
pode o meu canto abafar
ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah
eu não posso mais cantar
ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah
não tenho por que dançar
quero agora que saiba
esta vida é do mar
um dia embale algumas histórias
como as do meu amar
entenda porque neste mundo
não havia mais como eu morar
ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah
não tinha para quem dançar
ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah
já não podia mais cantar
não adianta eu lhe contar
nem do meu amor eterno
nem do meu jeito de amar
ninguém pode chegar antes
da minha música entornar
só a cachoira bela
pode o meu canto abafar
ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah
eu não posso mais cantar
ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah
não tenho por que dançar
quero agora que saiba
esta vida é do mar
um dia embale algumas histórias
como as do meu amar
entenda porque neste mundo
não havia mais como eu morar
ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah
não tinha para quem dançar
ah-ah-ah-ah-ah-ah-ah
já não podia mais cantar
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