segunda-feira, 24 de novembro de 2008

mar contemporâneo


A minha cidade tem mar. Uma faixa imensa de areia temperada com espuma e sal, que já recebeu um pouco de tudo que se tem notícia. Tanto a morte como a vida chegam, na minha cidade, navegando. Pelo mar, a viagem é sempre mais bonita. O mar da minha cidade coloca o céu mais próximo dos homens, enche de azul o invisível. É o mar que fragiliza os prédios, enguiça a tecnologia, engordura as janelas da minha cidade. Não há o que fazer. Eu preciso tanto dele, que esqueço.

Com tanto mar, na minha cidade, ainda chove. Tanto chove como faz sol. O tempo que parece necessário. A gente, que bem nasceu nela, nem sempre observa e ainda se surpreende com esta natureza que já não nos é contemporânea. Agradeço por ter o balanço do mar em meus quadris.
Quem nasce numa cidade de mar intenso, sem perceber, apreende um pouco de vida com a maresia.

O mar é exemplo. É ele também a chuva. É ele também o sol. Na minha cidade, quando chove um pouquinho mais, alaga tudo. É água. É água fora e dentro da pele. Nos dias de maior sol, é no mar que eu penso e, nestes dias, ele brilha mais e muda de cor. Na minha cidade, quando faz frio, eu tenho medo e rezo. Rezo para este mar que me acompanha.

Triste da cidade que não tem mar. Mais ainda das que, desta falta, construíram prédios. Quase não tem azul. É mais a poeira e o concreto apequenando o céu. Chove pouco e, às vezes, nem tem sol. É só frio ou calor. Para mim, é tristeza, solidão e saudade. Se lá vivesse muito tempo, não esqueceria.
Já eles, que lá nasceram, talvez nem saibam. E, por isto, não sintam falta de um mar para rezar. Cada um sabe a cidade que carrega dentro de si.

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