Onde está o genuíno? Quero conhecê-lo. Quero passar ao lado de alguém que não leu nenhum livro nos últimos anos. Que não viu nenhum filme. Que não comprou um jornal. Que não folheou uma revista. Que não ouviu noticiários. Que não descansou ao som de uma televisão. Quero ouvir alguém que fale sem referenciar outrem. Quero. Quero alguém que tire de si o mundo, sem aspas. Alguém que, enquanto eu falo, fique mesmo prestando atenção no tom da minha voz. E me espante como se fosse um vidente. Evidente. A sabedoria emocional é rara, é como vidência, uma sobrenatural sensibilidade. E eu quero. Alguém que não saiba, não explique e que seja. Alguém que enxergue mais e esqueça, nos meus olhos, o seu reflexo. Alguém que desconheça Narciso. Que não se olhe de frente. Que não olhe para si. Alguém que sinta que os olhos são janelas abertas por onde se observa o que não se sente. Por onde, apenas os de fora podem nos observar. Quero alguém que não queira imagens e formas para si e para os outros, e as tenha como o desenho imaginário de suas sensações. É o que, para mim, parecemos ser. Desenhos imaginados, sem um único traçar. Quero. Quero alguém que tenha desconhecido os teoremas e os use para alcançar as minhas mãos. Alguém que fale quando quiser falar. E respire. E que, pelo menos de vez em quando, embora acredite que este alguém o faça sempre, acompanhe mesmo que com o olhar a minha respiração.
Roteiro inexistente para uma cena triste
Há 3 anos
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