eu quero parar
parar é ação
parar é atitude
parar é atividade
eu quero parar.
eu quero saber parar.
eu quero permanecer parada, desapercebendo o tempo.
segunda-feira, 30 de março de 2009
domingo, 29 de março de 2009
criatura
eu inventei ele.
e assim, com a invenção, nós brincamos.
numa tarde, quando descansávamos lado a lado a brincadeira, ele levantou e saiu andando.
não se despediu. com as mãos despreocupadas parecia não levar nada. fiquei esperando que olhasse para trás. mas não. passei muitas tardes, sentada no mesmo lugar. sempre lembrando dos seus olhos. no fundo deles, uma fé que me queria dizer "eu cresci" e me deixava ver que ainda era além, o presente, desconhecido e impetuoso "eu estou crescendo".
ouvi do vento, o caminho do jovem adolescente a inventar a sua e, com ela, outras vidas. eu também já me levantei sem olhar para trás. é coisa que se desaprende com o tempo. com a memória que segue e preocupa as mãos.
ele me (des)inventa a cada passo. eu, nós dois, a cada tarde.
a nossa (des)existência é pura invenção.
e assim, com a invenção, nós brincamos.
numa tarde, quando descansávamos lado a lado a brincadeira, ele levantou e saiu andando.
não se despediu. com as mãos despreocupadas parecia não levar nada. fiquei esperando que olhasse para trás. mas não. passei muitas tardes, sentada no mesmo lugar. sempre lembrando dos seus olhos. no fundo deles, uma fé que me queria dizer "eu cresci" e me deixava ver que ainda era além, o presente, desconhecido e impetuoso "eu estou crescendo".
ouvi do vento, o caminho do jovem adolescente a inventar a sua e, com ela, outras vidas. eu também já me levantei sem olhar para trás. é coisa que se desaprende com o tempo. com a memória que segue e preocupa as mãos.
ele me (des)inventa a cada passo. eu, nós dois, a cada tarde.
a nossa (des)existência é pura invenção.
quinta-feira, 26 de março de 2009
quarta-feira, 25 de março de 2009
tem uma capa com um capuz pendurada na janela do meu vizinho. com as luzes apagadas, é um vulto misterioso, virado para mim. de onde estou, deitada em minha cama, com meia luz, tv ligada e cortina aberta, observo aquela forma insistentemente. o vulto até se move para me assustar, mas meus olhos não me convecem. falo para ele:
- pare de me olhar. pare de me olhar.
2º Ato: quando era criança, não brinquei de matar passarinho...
porque o pássaro veio agora em minha janela me fazer chorar e não me deixar mentir.
tudo que não digo, choro.
já me disseram para não falar de tudo. de mim. demais.
eu não confio em ninguém.
tudo que não digo, choro.
já me disseram para não falar de tudo. de mim. demais.
eu não confio em ninguém.
1º Ato: a esperança não sei quando morre.
abandono aqui o resto de esperança que te resta. não as minhas, e sim as tuas pela tua não-morte. a morte de uma das tuas vidas. aquela que a mim pertence. vais morrer conhecendo pouco esta que, ainda que seja a forma mais supérflua de tua existência, lhe fará falta. tua vida em mim, hoje, liberto ao abandono. e, assim, à própria sorte, sei que não poderá respirar. vais morrer sozinha, sem paz.
eu já choro a tua morte.poucos dias, viverei feliz, sem ti.
terça-feira, 24 de março de 2009
domingo, 22 de março de 2009
amerelo ou ouro
o girassol caiu do 5º andar. projetei-me pela janela para ver o vaso no chão. eu acima, ele abaixo.
senti a grande flor despetalada. amor e angústia, fui buscar. tudo a nós restava. vaso e raiz plantada.
é sempre assim
a qualquer tempo
vão-se as flores.
a qualquer tempo
vão-se as flores.
o homem retorna ao pó. empoeirada lembrança. triste o destino do real que inevitavelmente se torna apenas um vulto sem significado, coberto com lençol ou névoa. é passado. qualquer coisa que não existe. e, eu, que o criei cuidadosamente, livrando-o do esquecimento por repetidas vezes, deixo-o debaixo do branco. sem dor, sem dó. vou beber uma lágrima em homenagem ao pranto que não se dará. falso valor. fora mesmo pouco. um engano sem nenhum quê. como meras palavras nada especial.
quarta-feira, 18 de março de 2009
desconhecer
tem coisas que não é para se saber. tantas vezes desconhecimento é bem-estar. há um tom na existência que poupa tudo que não se pode ou simplesmente não se precisa. todo tempo vai a vida se tercendo por trás do entendimento. você, só, anda. o mundo gira.
terça-feira, 17 de março de 2009
esquecendo a segunda-feira
Quando se tem refluxo, a experiência prática lhe faz acreditar que tudo que desce tende mesmo a subir. Assim, para não morrer sufocada em sua própria digestão, quando já à noite, você come tudo o que não pode na quantidade que não deve, o melhor é se esquecer de deitar. Esquecer que é noite e começar a terça-feira com a escura madrugada. Basta desistir do travesseiro para ver a insônia do mal-estar levantar-se do seu lugar na cama e, decepcionada, sair em busca de outra companhia. Nem por isto, você fica bem. Persiste a crença de que a hora é boa para relaxar. Usando o resto da criatividade barata que lhe restou do dia em que, por várias vezes, você se perguntou "Onde foi parar o meu bom senso?", você embarca num banho despretensioso que, com o tempo, vai se tornando menos quente e mais longo. É uma hora da manhã e você:
- lava o cabelo com aquele creme de tratamento ultra-reparador 5 em 1 para cabelos danificados;
- troca o sabonete neutro pelo esfoliante que – há meses – você estava se lixando para o frasco;
- usa um gel de limpeza profunda eficaz para o combate de acne, mesmo sem nenhuma espinha;
- depila as pernas;
- passa todos os cremes hidrantes que duram um semestre inteiro nas mãos econômicas da sua preguiça, incluindo aquele para olheiras, presente da irmãzinha, que você sempre se lembra de usar às duas da manhã.
Passam das duas.
Você seca esperançosamente os cabelos para não molhar o travesseiro. Passa perfume. Senta. Lê. Escreve. Ouve a chuva até o sono chegar. A chuva passa. O sono não vem. Mas, em quatro horas, tanto o estômago quanto a consciência já te permitem esperar deitada. Bem ou mal, às seis e meia, você irá levantar e já será hora de tomar outro banho.
- lava o cabelo com aquele creme de tratamento ultra-reparador 5 em 1 para cabelos danificados;
- troca o sabonete neutro pelo esfoliante que – há meses – você estava se lixando para o frasco;
- usa um gel de limpeza profunda eficaz para o combate de acne, mesmo sem nenhuma espinha;
- depila as pernas;
- passa todos os cremes hidrantes que duram um semestre inteiro nas mãos econômicas da sua preguiça, incluindo aquele para olheiras, presente da irmãzinha, que você sempre se lembra de usar às duas da manhã.
Passam das duas.
Você seca esperançosamente os cabelos para não molhar o travesseiro. Passa perfume. Senta. Lê. Escreve. Ouve a chuva até o sono chegar. A chuva passa. O sono não vem. Mas, em quatro horas, tanto o estômago quanto a consciência já te permitem esperar deitada. Bem ou mal, às seis e meia, você irá levantar e já será hora de tomar outro banho.
domingo, 15 de março de 2009
eu minúsculo
olha ao redor da tua liberdade,
quantos corpos tu arrastou por ela.
a desmezura do eu ao outro ora mata, ora escraviza.
o eu nem a si liberta.
quantos corpos tu arrastou por ela.
a desmezura do eu ao outro ora mata, ora escraviza.
o eu nem a si liberta.
sétimo dia
a gente crê em Deus para sempre ter com o que ficar.
E, sem medo, meu Deus diz:
E, sem medo, meu Deus diz:
"Creia ou não, em qualquer tempo,
nada a ti pertence."
nada a ti pertence."
sábado, 14 de março de 2009
quinta-feira, 12 de março de 2009
quarta-feira, 11 de março de 2009
terça-feira, 10 de março de 2009
em canto de pássaro
sonhei com um passarinho
voava alegre de um lado a outro
num grande círculo cantando para mim
no fim da tarde me lembrei
o quanto era lindo
aquele encanto ainda aqui.
sorri feliz saudade.
voava alegre de um lado a outro
num grande círculo cantando para mim
no fim da tarde me lembrei
o quanto era lindo
aquele encanto ainda aqui.
sorri feliz saudade.
segunda-feira, 9 de março de 2009
domingo, 8 de março de 2009
sábado, 7 de março de 2009
terça-feira, 3 de março de 2009
o banho nosso de cada noite
Troquei a resistência do chuveiro.
E, parodiando Belchior,
"A felicidade é uma água quente".
segunda-feira, 2 de março de 2009
deita-me
Às vezes, eu canto de cansaço
na esperança que um anjo desça e me adormeça
antes que eu mesma tenha que trilhar o caminho do sono.
Sonho sempre em deitar-me sem sentidos, numa cama já quente,
que me leve mais rápido à noite, que me tome mais rápido do dia,
onde eu sobre, quase esquecida de mim mesma, por algumas horas
até o galo da cidade cantar, dissonante e apressado, o meu ficar de pé.
"quero deitar-me nos braços de um anjo de olhos castanhos e asas brancas"
na esperança que um anjo desça e me adormeça
antes que eu mesma tenha que trilhar o caminho do sono.
Sonho sempre em deitar-me sem sentidos, numa cama já quente,
que me leve mais rápido à noite, que me tome mais rápido do dia,
onde eu sobre, quase esquecida de mim mesma, por algumas horas
até o galo da cidade cantar, dissonante e apressado, o meu ficar de pé.
"quero deitar-me nos braços de um anjo de olhos castanhos e asas brancas"
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