De longe, era mesmo uma casa abandonada. Tudo meio arruinado. Rangendo, sem audição. Morava um casal que era tão apaixonado, que, dizia a velha, um não comia sem o outro chegar. O moço era pescador, saía todo dia cedo, antes da manhã levantar. Aí, se tomava café e o resto todo esperava a hora dele voltar. Às vezes, durava até a noite. Ela dizia que não sentia fome. Nem água quase não bebia. Eu pensava que só podia ser saudade a pessoa passar o dia todo sem comer nada. Viveram bem uns cinco anos. Foi numa das primeiras madrugadas de março. O moço saiu para pescar. Dizem que o tempo não estava ruim, nem bom. Deus sabe lá, se emendou uma madrugada na outra e nada do moço chegar. A Rita, que já era magra, agüentou bem uns quatro dias sem comer. Depois, caiu doente. Deram-lhe muita papa e folha. Ela saiu da cama e ele ainda não tinha voltado. O povo todo dava mesmo o moço como morto. Nem ele, nem o barco. Viram ele na maré de longe. Só tinha mesmo a roupa do corpo. E do mais, todo mundo sabia que ele gostava mesmo era dela. Mas, a Rita não contou conversa. Quanto mais diziam a ela para rezar o corpo, mas ela praguejava ele. E falava tão mal, tão mal, que parecia falar de outro. Dizia mesmo que homem era tudo igual, que ele tinha era arranjado outra, tinha largado ela por uma rapariga qualquer. Bendizia não ter dele nenhum filho para carregar o desgosto. O povo chegou a achar que ela estivesse doida ou então que os dois já não eram tão comungados quanto parecia. Mas, quando perguntavam se ele já não gostava dela, ela ficava era mais aborrecida. Dizia que homem sempre gosta de quem lhe põe a mesa e forra a cama. Era de espantar a tamanha desvergonha com que ela contava a humilhação. Porque mulher nenhuma acha bom ser trocada. Mas, a Rita não se importava em falar e repetia tanto, que a vizinhança chegou mesmo a acreditar nela e resolveu parar de rezar o defunto. Daí, a Rita ficou uns três meses. Ninguém nunca viu ela chorar. E, numa manhã, como a dele, ela arrumou uma trouxa e saiu antes do sol. Disse ela a uma vizinha que não ficava na casa mais não. Que não queria está nela para ver ele voltar. Era bom que ele quietasse no lugar onde estava. Nisso, já se vão muitos anos. A casa já está velha. Era tão bonitinha. Bem certo, que com esse tempo, o moço não voltou. Disseram depois que tinha uns pedaços do barco pelo mar. Mas, não se sabe, com aquela história toda da Rita. Ela bem que sumiu no mundo. Ninguém tem notícia. Mas eu torço mesmo para ela estar certa, viu? Ela devia era saber. É melhor o amor acabar, que o moço morrer.
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
conto do amor ao fim
De longe, era mesmo uma casa abandonada. Tudo meio arruinado. Rangendo, sem audição. Morava um casal que era tão apaixonado, que, dizia a velha, um não comia sem o outro chegar. O moço era pescador, saía todo dia cedo, antes da manhã levantar. Aí, se tomava café e o resto todo esperava a hora dele voltar. Às vezes, durava até a noite. Ela dizia que não sentia fome. Nem água quase não bebia. Eu pensava que só podia ser saudade a pessoa passar o dia todo sem comer nada. Viveram bem uns cinco anos. Foi numa das primeiras madrugadas de março. O moço saiu para pescar. Dizem que o tempo não estava ruim, nem bom. Deus sabe lá, se emendou uma madrugada na outra e nada do moço chegar. A Rita, que já era magra, agüentou bem uns quatro dias sem comer. Depois, caiu doente. Deram-lhe muita papa e folha. Ela saiu da cama e ele ainda não tinha voltado. O povo todo dava mesmo o moço como morto. Nem ele, nem o barco. Viram ele na maré de longe. Só tinha mesmo a roupa do corpo. E do mais, todo mundo sabia que ele gostava mesmo era dela. Mas, a Rita não contou conversa. Quanto mais diziam a ela para rezar o corpo, mas ela praguejava ele. E falava tão mal, tão mal, que parecia falar de outro. Dizia mesmo que homem era tudo igual, que ele tinha era arranjado outra, tinha largado ela por uma rapariga qualquer. Bendizia não ter dele nenhum filho para carregar o desgosto. O povo chegou a achar que ela estivesse doida ou então que os dois já não eram tão comungados quanto parecia. Mas, quando perguntavam se ele já não gostava dela, ela ficava era mais aborrecida. Dizia que homem sempre gosta de quem lhe põe a mesa e forra a cama. Era de espantar a tamanha desvergonha com que ela contava a humilhação. Porque mulher nenhuma acha bom ser trocada. Mas, a Rita não se importava em falar e repetia tanto, que a vizinhança chegou mesmo a acreditar nela e resolveu parar de rezar o defunto. Daí, a Rita ficou uns três meses. Ninguém nunca viu ela chorar. E, numa manhã, como a dele, ela arrumou uma trouxa e saiu antes do sol. Disse ela a uma vizinha que não ficava na casa mais não. Que não queria está nela para ver ele voltar. Era bom que ele quietasse no lugar onde estava. Nisso, já se vão muitos anos. A casa já está velha. Era tão bonitinha. Bem certo, que com esse tempo, o moço não voltou. Disseram depois que tinha uns pedaços do barco pelo mar. Mas, não se sabe, com aquela história toda da Rita. Ela bem que sumiu no mundo. Ninguém tem notícia. Mas eu torço mesmo para ela estar certa, viu? Ela devia era saber. É melhor o amor acabar, que o moço morrer.
domingo, 28 de dezembro de 2008
Feliz Ano Novo
sábado, 27 de dezembro de 2008
matando carrapatos
Para me lembrar que é um cachorro, Albert de vez em quando adquire uns carrapatos. Eu odeio. Sempre penso "Nunca mais crio cachorro na vida". Engulo o meu nojo e repulsa para enfentar os parasitas com frieza. Desta vez, um novo remédio, segundo o vendedor, um tratamento de choque para a hora do banho. Lendo a bula, encontro um "ATENÇÃO: CÃES DE PEQUENO PORTE PODEM APRESENTAR DEPRESSÃO ACENTUADA POUCAS HORAS APÓS A APLICAÇÃO."
- Hein?!
Olho para Albert em tom irônico e cruel:
- Você gosta deles, é?
A palavra cala
Delas, pode-se escutar qualquer coisa. Não dizem nada. Nem sobre mim. Nem a você.
As palavras só servem para nos calar.
sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Fim de Festa
Queria um post sobre o amor, mas ele não veio.
Anoiteceu, o sino gemeu
E a gente ficou feliz a rezar
Papai Noel, vê se você tem
A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
E assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem.
Boas Festas - Assis Valente (1932)
Alguém me disse que eu não era generosa
A minha generosidade é utópica. Talvez não sirva nem a mim, nem aos outros. Talvez nem se chame generosidade. Seja apenas aceitação. O certo é que toda generosidade prática me parece ultrapassada. Acho até que esta generosidade só tem a ver com previdência. Minha visão de futuro tem sido cada vez mais escassa. Disto não se salvam as relações. Não confio no tempo. Ele me tomou muita gente. Por ele, fui deixando de esperar os retornos. E, ainda que quisesse, não poderia ignorar a sensação de que não envelhecerei até a hora da colheita. O tempo só me confirma. Talvez eu morra jovem.
quinta-feira, 25 de dezembro de 2008
Instinto de Natal
- Meu Deus, Albert, quando você vai aprender a ter cuidado?!
quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Ao Meu Amigo Imaginário: Feliz Natal!
Há algum tempo, um estranho persegue a minha mente. Um dia, o vi passar. No outro, ouvi sua voz. Certa vez, ele estava na minha frente na fila do supermercado. Observei-o atentamente. Neste dia, descobri seu nome. Descobri onde morava. Passamos meses sempre nos vendo pela rua. Às vezes, em lugares inesperados.
No começo deste mês, dada à insistência do destino, resolvemos nos aproximar. Não houve uma apresentação oficial. Apenas um "Olá. Tudo bem?!" Foi engraçado. Daí em diante, sempre trocamos algumas frases, corriqueiras, divertidas e triviais. Assim, vamos nos acostumando um ao outro. Teve um dia que quis contar uma coisa para ele. Na verdade, já tinha pensando outras vezes. Só que naquele dia, teria contado, se o tivesse visto. Cheguei a caminhar pela rua, mas nada.
De umas semanas para cá, quando vejo uma coisa, penso nele. Sempre penso nele. Ele é um estranho. Outro dia parei para analisar. Desde que o conheci, fiz várias coisas por causa dele. Eu nem sabia. Ele é um estranho. Outro dia, ele tinha um livro na mão. Procurei na internet. Li um artigo sobre o livro. Li o livro. Não gostei muito. Queria ter dito a ele. Vai ver ele também nem gostou. Fiquei uns quatro dias sem vê-lo. Fiquei triste. Quando a gente se encontrou, ele fez uma cara do tipo "você sumiu". Eu ri meia hora. Quando cheguei em casa, escrevi mais um texto para o blog. Ele nem sabe que eu escrevo.
Ontem, saí rapidinho para comprar umas coisas. Mal pensei nele. O vi quando dobrei a esquina. Ele estava do outro lado da pista e atravessou para falar comigo. Fiquei um pouco nervosa porque normalmente a gente não pára quando é assim na rua. Ele explicou tudo: "Oi. Então, Paula, Feliz Natal!". Claro. O natal. Eu nem gosto que me chamem de Paula, mas, coitadinho, ele ainda nem sabe disso. "Sim. Para você também. E Feliz Ano Novo!". "Não. A gente ainda se vê antes do Ano Novo". É? Sorri um "Quem sabe". Ficou no ar o tempo de um abraço. Mas, era demais. Afinal, ele é um estranho. Quando me afastei um pouco, ele disse mais alto "Olha, ano que vem a gente se conhece". Ri uma hora. Óbvio. Ele não é um estranho. Na próxima, darei a ele um abraço de Feliz Ano Novo!
terça-feira, 23 de dezembro de 2008
meu pé direito
a história da menina que escolheu.
Quando uma pessoa escolhe, a outra é obrigada a escolher. A escolha não é um direito. É mesmo um dever, que a maior parte das pessoas finge não cumprir para não carregar o peso da responsabilidade. Em uma das minhas escolhas recentes, decidi não fazer favores para ninguém. Não falo de favores práticos, como pegar uma coisa, fazer algo, uma gentileza. Não. Falo dos favores implícitos na vida cotidiana, aqueles que nem sempre te pedem, mas que entram na sua escolha. Acontece quando você escolhe fazer algo por um motivo que não é exatamente seu. Fiquei mais egoísta depois desta escolha. Confesso. No entanto, tenho acreditado no poder de transformação do egoísmo temporário. Acho mesmo que um tempo de egoísmo pode trazer novo significo a um sujeito. Por enquanto, com esta escolha, vou fazendo história. Afinal, quando uma pessoa escolhe, a outra é obrigada a escolher. Quando a outra escolhe, a pessoa é obrigada a escolher novamente.
gata e rato
domingo, 21 de dezembro de 2008
Nem quero nada a mais.
Não quero a preocupação de alguém.
Permita-me a escuridão que nenhum olho me enxergue à noite.
No dia, há muito, a minha alma é despercebida.
Que assim fique.
E eu possa me guardar no céu que ninguém cerca como meu.
E não brilhe. Nunca. Nem por brincadeira. Nem por covardia.
Estou a me apagar. Devagar. Pela inspiração.
Vão ficando, sem cor, no chão, os meus ciscos.
Não me despeço. Não os preciso.
Já preciso de tão pouco. Ou de tanto.
É certo que não me importo.
Faço tudo pelo sentir.
Sentir me basta. Sentir me cansa.
É brilho quente. Precioso e inútil.
Só dele me apago. Só dele me acendo.
E é inútil. Servirá para nada. Servirá somente sentir.
Enquanto durar as paciências.
Eu acendo. Eu apago.
E todos os olhos me perdem de vista.
Além do mais, eu nunca achei que ciúme pudesse aproximar as pessoas. Para mim, sempre foi motivo de renúncia. Sintoma de desatenção.
sábado, 20 de dezembro de 2008
Ego
Eu como sou agora.
É insuportável.
Não me aceito fora de mim.
Não suporto me ver em outra.
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Queda
Enquanto, de longe, eu pensei em dizer. Um acidente. Um espanto. Todo mundo falava muito alto. Na festa. Quando ele caiu.
Acho que foram quinze ou vinte. Segundos de nada a fazer. Desejei que fosse o trigésimo andar. Desejei que ele fosse um anjo. Ainda mais leve. Desejei que o mundo acabasse. Antes da hora.
Tudo seria milagre.
Ele. Tão só. Abraçado ao solo. Irremediavelmente.
Não falem. Não questionem. Não. Nada faz. Não há sentido.
Um susto. Um sonho. Ainda bem. Foi sonho.
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
Com açúcar, com afeto
Gosto de estar ao teu lado. Sem perguntas, sem respostas. É tudo.
A despreocupação em saber é de infinita beleza. Intensa. Singela.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2008
alguém esteve lá
terça-feira, 16 de dezembro de 2008
ouvi com sabedoria ou uma analista amiga minha
corpo vida
eu não devia separar, mas o corpo é infinitamente verdadeiro.
Um dia, ainda viva, eu serei só corpo e o mundo, verdade.
o corpo é a concretude do espírito.
Ele é tudo e, às vezes, não o entendo.
Nem sempre a gente sabe.
Mas, a gente vive para praticar o corpo.
Até completar um ciclo.
O espírito é um eterno aprendiz.
De quando em quando, o corpo o ensina.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
A história só serve para nortear as mudanças.
***
não somos triviais. eu e você. não somos. não devemos conviver assim. não vamos parar de brigar, não vamos parar de brigar, não vamos parar de brigar. com a nossa história.
A história só serve para nortear não mudanças.
***
domingo, 14 de dezembro de 2008
Como os domingos acabam?
***
sábado, 13 de dezembro de 2008
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
a senhora ao lado
- E homem, não?
- Homem? Homem nem se apaixona. Quando muito, gosta um bocadinho de você.
Ouvi de uma moça velha
As crianças não. Elas entendem tudo. E, na maior parte das vezes, não aceitam. As crianças são muito revolucionárias. Mas a gente nunca dá ouvidos a elas.
O ser humano vai estragando à medida que cresce.
do amor, tenho apenas o sentimento. me parece simples de cultivar. sincero fruto da relação abnegada. por vezes, nem recíproca.
o amor não dói. o que dói é outra coisa.
ao amor permissível. quanto mais eu tenho, maior me sinto.
quinta-feira, 11 de dezembro de 2008
conjugar
cor em cheiro, cheiro em cor
é de si o mais intenso perfume
eu exalo tu exalas ele exala nós...
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Ontem
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Inspiração
Ao final, suspirei fundo. Um suspiro úmido, cuja duração contemplou a infinita beleza que a individualidade tem ao se compreender maior.
Apego
Sou feita de reservas. Com elas, espero as visitas do tempo. Quando ele chega, beijo-lhe a mão. Ele me olha, acomoda-se e fala-me com discernimento.
domingo, 7 de dezembro de 2008
sábado, 6 de dezembro de 2008
tempo da delicadeza
Amo os meus desejos. Quero tê-los.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
O Anjo Exterminador
Não lembro o rosto de nenhuma personagem.
O que traz à memória, roda, vira, mexe:
- ...
- Sim, Diretor, compreendo, mas não poderíamos aproveitar para fazer logo a outra tomada da cena anterior, enquanto o rebanho de cordeiros não fica pronto para filmar?
- ...
- Ok, estou pronta.
- ...
- Ah, desculpa, me esqueci de tirar... Agora, vou: do início sem a máscara!
- Ok. Gravando!
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Na farmácia: o que não tem remédio.
Farmácia. Antes de tudo, a balança. Coloco-me a espera, com a paciência típica de quem sabe que já ganhou. À minha frente, num tempo bem particular, uma menina de mais ou menos 19 anos, sobe descalça como se reverenciasse um oráculo. Em alguns segundos, ela comemora a consulta:
- Gente! Emagreci três quilos comendo de tudo! - Fala alto, sem pensar.
Silenciosamente, meu primeiro impulso: "Mentira!". Logo depois: "Quem sabe". Visivelmente mais leve, ela desce da balança rapidamente. Eu, tomando parte da minha vida, subo. Desço sem falar, mas lanço um olhar irônico à balança: "Da próxima vez, antes de subir, lhe faço uma mesura".
Dialética. "Não, eu não estava pensando em emagrecer. Não, eu não fiz nada para isso. Sim, eu achei pouco ter perdido pouco mais de um quilo, mesmo sem fazer esforço". Tentando conscientizar a minha pretensão, dirijo-me ao balcão e peço um antiinflamatório. Chega rapidinho e não é caro. Quase feliz, vou ao caixa.
Pequena fila e, quem vejo à minha frente?, a menina. Passo o olho em sua cesta: tintura de cabelo, hidratante e várias caixas de chá verde. De saquinho! Fico impressionada. Na fila, uma amiga mais alta, mais loira e magra, que eu não tinha visto até então, lhe faz companhia.
- Odeio chá verde!
- Eu não vivo sem, viciei. E realmente, acho que emagrece. - Respondeu a menina, ainda gordinha, com feliz sinceridade.
- Aff! Não sei como agüenta, não tomo nem aqueles de supermercado...
- Ah: Me pesei, perdi três quilos! - Animação de quem emagreceu 30.
- Foi?
- E comendo de tudo! Juro que não passei fome hora nenhuma esta semana.
- Mas eu te disse que você estava mais magra. Pensei até que tivesse perdido mais... O ruim destas dietas de reeducação alimentar é a continuidade. A primeira semana é ótima, porque a pessoa vem comendo de tudo livremente, aí, o mínimo que corta, já faz a diferença. Mas, da terceira em diante complica: mesmo seguindo tudo certinho, os resultados demoram muito. Priscila mesmo não agüentou, disse que passou várias semanas sem emagrecer nada...
A menina não teve tempo de raciocinar. Interrompendo a fala da loira, a caixa sorridente disse apenas "Boa noite!" e ela, ainda segura com a nova silhueta, foi pagar a compra. Logo atrás, eu era uma interrogação bege:
- Meu Deus, esta loira está com medo de quê?
mormaceira
Ou se quer ou não se quer.
a morte aumenta a espera
era o negro do ciúme
nenhuma cor lhe vestiu na hora da briga
foi nu, feito bicho, desperdiçar a força
era o vermelho do sangue
era o barro da terra
nenhuma cor lhe cobriu a mancha
foi o fim, feito juiz, sentar-se entre a gente
a desistência não teve cor
tampouco se viu por perto a cor dela
fora a presença da própria sombra a lembrar-lhe a infância
a criança, no tempo da pausa, o fizera corar
por pouco não fora o suspiro a chamar a morte
mas não se sabe como, nem porquê
enquanto um sonhou, o outro se fez livre
sendo, o céu, vivo fim de tarde.
terça-feira, 2 de dezembro de 2008
poucas frases
As nossas suposições só servem a nós mesmos.
Costumo me dobrar ao que quero.
A mínima grosseria ainda me deprime.
Ansiedade nunca foi meio de locomoção.
Precisar de alguém, para mim, é motivo de orgulho.
Um "não" não me basta.
Os sensíveis costumam ser inteligentes.
A nossa natureza é o que nos obriga.
As pessoas que dão a outra face,
segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
Sabedoria Divina
Tenho certeza que esta é a única condição que torna o meu espírito dialético.
domingo, 30 de novembro de 2008
(in)delicadeza
sábado, 29 de novembro de 2008
onde ficarão as nossas culpas?
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Subliminar
Todos vivem. Todos são. Todos entre regras e valores.
O "e" humano entre todas as coisas.
O universo e o senso comum. Eu e o meu.
São espelhos, minhas e não, imagens.
Em algum lugar, uma chama involuntária como respiração.
Somos as mesmas coisas.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Onde se escondem as mentiras?
Eu falo. Eu escrevo. Eu penso.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
mar contemporâneo
Com tanto mar, na minha cidade, ainda chove. Tanto chove como faz sol. O tempo que parece necessário. A gente, que bem nasceu nela, nem sempre observa e ainda se surpreende com esta natureza que já não nos é contemporânea. Agradeço por ter o balanço do mar em meus quadris. Quem nasce numa cidade de mar intenso, sem perceber, apreende um pouco de vida com a maresia.
O mar é exemplo. É ele também a chuva. É ele também o sol. Na minha cidade, quando chove um pouquinho mais, alaga tudo. É água. É água fora e dentro da pele. Nos dias de maior sol, é no mar que eu penso e, nestes dias, ele brilha mais e muda de cor. Na minha cidade, quando faz frio, eu tenho medo e rezo. Rezo para este mar que me acompanha.
Triste da cidade que não tem mar. Mais ainda das que, desta falta, construíram prédios. Quase não tem azul. É mais a poeira e o concreto apequenando o céu. Chove pouco e, às vezes, nem tem sol. É só frio ou calor. Para mim, é tristeza, solidão e saudade. Se lá vivesse muito tempo, não esqueceria. Já eles, que lá nasceram, talvez nem saibam. E, por isto, não sintam falta de um mar para rezar. Cada um sabe a cidade que carrega dentro de si.
sábado, 22 de novembro de 2008
hoje, não vou acender as luzes.
O corpo todo trêmulo.
Vais?
Não tenho para ti uma palavra de revolta.
Não tenho palavra.
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Transviada
Algo estranho neste fim de sexta-feira de manhã chuvosa e impaciente. Estou mais sozinha e pela fresta da janela do meu quarto, que aceitei abrir para não sufocar com o incenso, um vento frio, um cheiro de asfalto e concreto ainda por secar. Chuva na cidade. Chuva na cidade se tem poesia, é pouca, bem pouquinha. Alegria, nem se fala. Não conheço ninguém na cidade que comemore a chuva, no máximo, um "tinha que chover, estava muito quente" ou para os indispostos "é bom para dormir". Ninguém dançando, pisando nas poças, divertindo-se com a água que cai. Então, dou-me conta: é sexta-feira à noite e nem chove mais.
Há horas preenchendo o silêncio com um cd em espanhol cênico e eloqüente, inusitadamente, me veio uma vontade enorme de cometer um erro. Um erro não, algo mais. Um delito social. Algo que fosse reprovável para os moralistas e pelos liberais. Um ato, muito bem pensado, que me renderia de uma vez por todas um olhar de reprovação cruel e impiedoso de todos e de qualquer um. Imagine a sociedade inteira me apontando o crime e o castigo. Sim, eu teria feito algo que finalmente daria, a todos, o direito inquestionável de uma sentença pelo não-perdão. Todos seriam sensatos e, ao mesmo tempo, unânimes, em afirmar que o meu castigo era merecido. O assunto, como nestes casos é de costume, renderia em alto e bom som pelas ruas; abertamente - como nunca fui contemplada, por inúmeras sextas-feiras adentro.
Ávidos pelo próximo capítulo, enfim, entregariam o meu castigo. Eu cumpriria todo o penar e, pelos anos necessários, suportaria com resignação os incansáveis olhares de repúdio e indignação. Durante o meu martírio, haveria ainda o meu próprio tempo de reconhecer, envergonhar-me, culpar-me, arrepender-me e flagelar-me até chegar o dia, que não sei se é possível existir com toda esta diferença de idades entre as almas humanas, em que finalmente passaria.
Por fim, haveria, pelo menos, um dia depois deste. Um dia silencioso como esta sexta-feira, no qual todos os vivos que, sem nenhuma mísera exceção, me condenaram em nome da justiça, teriam salvado as suas e muitas almas do inferno pelo valoroso exemplo de honestidade e incorrupção. Neste mesmo dia, do outro lado, eu acordaria em paz.
"No abrir dos olhos, ainda como num sonho,
ela levantou da cama e, aos pés do seu pecado, disse:
- Graças, meu amor, graças!"
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Diálogo VI # Sem silêncio
- Ela não ouviu?
- (apertou os lábios, antes de responder) Eu sei, o senhor acha que eu não devo mais falar dela.
- (ouve sem olhar)
- Eu quero, doutor. É o meu azar.
- Não há problema nenhum, desde que você consiga ficar bem assim.
- Ela estava com um vestido curto, reparei porque ela não usa muito. Acho até que engordou um pouco também... Às vezes, eu penso que ela mudou de cidade. Sei lá, está em outro país.
(pausa)
Quando eu a vejo, doutor, faz um silêncio.
Há o silêncio que desperta com o seu sorriso.
Ensurdece. Nuveia o chão.
Preciso dele. Hoje de manhã, precisei mais.
Veio outro, tão... tanto... ainda.
importâncias
- Quando?
- Um tempão já. A gente chegou da casa de sua mãe... Acho, não tenho certeza. Saltamos no shopping Barra e viemos até aqui abraçados debaixo de uma chuva, mas chuva mesmo...
- E chegamos muito molhados?
- Encharcados! Foi pau d'água, do shopping Barra até aqui com chuva na cabeça. Só que a gente não estava nem aí. Você não lembra, não é!?
- Não.
- Eu intitularia uma das cinco melhores lembranças da gente. Você não lembra!?
- Nossa!
terça-feira, 18 de novembro de 2008
o fazer nosso de cada dia
Intransitivo
música silêncio telefone teatro cama sim fotografia
"Corra Lola, corra!"
"(...)Venha, meu amigo Deixe esse regaço Brinque com meu fogo Venha se queimar Faça como eu digo Faça como eu faço Aja duas vezes antes de pensar Corro atrás do tempo Vim de não sei onde Devagar é que não se vai longe Eu semeio o vento Na minha cidade Vou pra rua e bebo a tempestade"
sábado, 15 de novembro de 2008
Sexo: (x) F ( ) M
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
quase em branco
O tempo antes do sol
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
demaquilante para os olhos
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
lembranças ao meu
"Há pessoas cuja vaidade interfere em tudo quanto fazem, mesmo nas leituras."
domingo, 9 de novembro de 2008
sábado, 8 de novembro de 2008
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
terça-feira, 4 de novembro de 2008
o que se diz, o que se pensa, o que se sente
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Sal & Chuva
azedinho-doce
domingo, 2 de novembro de 2008
quinta-feira, 30 de outubro de 2008
meninas crescem mais rápido
quarta-feira, 29 de outubro de 2008
terça-feira, 28 de outubro de 2008
Quando você não relaciona o teatro a sua verdade, você o relaciona a quê?
tende piedade de nós"
Então, por que a morte do ator ainda é cênica?
- O direito de poder imaginar: estou farta de vê as coisas como elas são, quero vislumbrá-las.
- Profissionais que vendam as suas emoções e não o seu corpo: o corpo do ator é veículo de sua arte e não produto.
PS: Um dia com calma, tempo e mais jeito, voltarei a esta digressão.
quinta-feira, 23 de outubro de 2008
desassossego
Será mesmo preciso ser dono?
De tudo que tenho, sou eu mesmo o excesso e a falta.
domingo, 19 de outubro de 2008
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
batendo as botas
- O quê?
- Nossa amizade.
- Não entendi. Amizade é coisa que não termina.
- Tem certeza?
- Nós não brigamos.
- Não precisa.
- Precisa. Ou então, é o tempo.
- O tempo?
- É. Ou a falta de tempo.
- Piada.
- Mas por que isso?
- Não gosto de ver as coisas se acabando.
- Pois, eu odeio final.
- É tudo ciclo: começo, meio, fim.
- E quando sabe que está no fim?
- Quando começa a diminuir o valor.
- Perdemos o valor?
- Se não terminarmos aqui, perderemos em breve.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
Epifania: uma bela manhã de 91
Eu e a minha irmã aprendemos algumas músicas juntas. Ficávamos repetindo as letras um bom tempo até memorizar. Lembro-me que foi assim, em diferentes momentos das nossas vidas, com Os barcos, Tarde em Itapuã e Aquarela, que achamos despretensiosamente nas páginas de um livro de desenho. Ficamos horas nos divertindo e cantarolando a música. O nosso dueto infantil de Aquarela teve uma inesperada carreira: um dia, a professora resolveu fazer um trabalho e o som não funcionou, fui chamar a minha irmã na sala dela e nós duas cantamos juntas para algumas turmas da 4ª série. Eu tinha 10; ela ia fazer 13 e estava na 6ª.
(...)
"E ali logo em frente a esperar pela gente o futuro está
E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença muda nossa vida
E depois convida a rir ou chorar
Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos numa linda passarela
De uma aquarela que um dia enfim
Descolorirá
Numa folha qualquer eu desenho um sol amarelo
Que descolorirá
E se faco chover com dois riscos tenho um guarda-chuva
Que descolorirá
Giro um simples compasso e num círculo eu faço o mundo
Que descolorirá"
Aquarela
O que nos lembra
Uma metade tristeza, uma metade alegria
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
A magia da verdade inteira, todo poderoso amor
É sempre bom lembrar
Que um copo vazio
Está cheio de ar"
Copo Vazio - Gilberto Gil
domingo, 12 de outubro de 2008
decerto
deixo você ser a sua forma
não cabe a mim os planos
deixo ser sem qualificação
não são duas nem mil
as faces do vir
"Há de chegar com uma cara, uma roupa e uma palavra na boca."
sábado, 11 de outubro de 2008
quinta-feira, 9 de outubro de 2008
Ato de refazer
Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/Destruir/Reconstruir/
domingo, 5 de outubro de 2008
Foi também amor II
Cabem, a ele, todos os pretéritos:
o perfeito, o imperfeito e o mais-que-perfeito.
Tenho para ti um "sejas feliz"
sábado, 4 de outubro de 2008
estado
como a morte está para o nunca mais.
Há quanto tempo, de nós, está o eterno?
Antes do princípio e do fim, muito do não lembrar.
No eterno, descansa o morto.
Foi também amor
Dele, pode-se ter apenas uma felicidade simples.
E, quando assim não for, já foi.
sexta-feira, 3 de outubro de 2008
Miguel Torga
quarta-feira, 1 de outubro de 2008
domingo, 28 de setembro de 2008
desenho do meu
mais um pingo faz a curva
a tristeza é dela
ninguém pode carregar
não adianta pedir barulho
o silêncio ensurdece
há de despertar a chuva
É chuva, é chuva
fecha rápido as janelas
não deixa o vento mudar
pela porta já não se passa
ninguém entra, ninguém sai.
Na tarde de céu cinza
não cabe ao tempo, nem ao acaso.
Ninguém pode desenhar o sorriso dela.
sábado, 27 de setembro de 2008
sou no plural
mais vontade que saudade
me traz em qualquer pedaço um pouco de volta.
Nunca vi felicidade sem encontro
o chão não é caminho para os nossos motivos.
Só posso ouvir o amor
toda a certeza e nenhuma razão.
Escuto teu cantar sincero
Sorrio e sorrio de novo.
O amor me leva em teus braços
elevada feito criança
ainda com esperança de crescer e multiplicá-lo.
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
uma mulher comum
só me dizem verdades.
e eu queria tanto que você soubesse mentir,
pelo menos, eu estaria livre.
chama-me ao longe sua presença.
ainda me rouba.
não quero mais esta beleza de todas as cores.
que a natureza cresça fora de mim
e o verde do meu corpo seque à luz do convencional.
eu quero mesmo ser a velha conhecida,
andando para o futuro entre o feliz e o tanto faz.
ao fim
o velho não está morto, nem inerte
é o que sempre esteve a nos rondar se repetindo
é, em si, a possibilidade latente de mudança
é no velho que se dá, afinal, o que sempre esteve para acontecer
ou és novo, ou ainda és velho.
ou, então, já estás morto.
bordado bordô
menina bonita bordada de flor
eu vi primeiro
todo encanto dessa moça
todo encanto dessa moça
vai ver era só
dizer a ela assim
moça por favor
cuida bem de mim
(Marcelo Camelo)
terça-feira, 23 de setembro de 2008
Primaveras
domingo, 21 de setembro de 2008
sábado, 20 de setembro de 2008
O rei é mais bonito nu
que se levanta todos os dias por outrém.
O sol, quando lhe fecham os olhos,
fica ainda mais intenso,
por traz da pele, invade as pálpebras,
com seu laranja-vermelho incandescente.
Ele dispensa a vaidade.
Dono do desejo, só por este,
amanhece a noite e anoitece o dia.
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
Meio caminho andado
"Quando eu for velho
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
Ata-me
Que necessidade delas?
Não as use para me aprisionar.
Envolva-me com os teus braços.
terça-feira, 16 de setembro de 2008
Flores ao vento
já não posso carregar por trás dos olhos,
a minha saudade.
Dizem que por baixo da ponte passa um rio,
onde posso dissolver o meu sal em outras águas.
Quanta água doce, tanta água salgada,
por não saber trazer aos olhos o salobro despertar.
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
... por nada
Então, andei demais por terras vizinhas. Chego a me arrepender do cansaço. Recolho-me em despedida. Que a vontade me permita repousar nas águas calmas do meu rio. Sempre hei de retorná-las entre os horizontes que navego.
"Mora na filosofia
A ostra e o vento
Vem a nuvem
Cai a folha
Quem sopra meu nome?
Raia o dia
Tem sereno
O pai ralha
Meu bem trouxe um perfume?
O meu amigo secreto
Põe meu coração a balançar
Pai, o tempo está virando
Pai, me deixa respirar o vento
Vento
Nem um barco
Nem um peixe
Cai a tarde
Quem sabe meu nome?
Paisagem
Ninguém se mexe
Paira o sol
Meu bem terá ciúme?
Meu namorado erradio
Sai de déu em déu a me buscar
Pai, olha que o tempo vira
Pai, me deixa caminhar ao vento
Vento
Se o mar tem o coral
A estrela, o caramujo
Um galeão no lodo
Jogada num quintal
Enxuta, a concha guarda o mar
No seu estojo
Ai, meu amor para sempre
Nunca me conceda descansar
Pai, o tempo vai virar
Meu pai, deixa me carregar o vento
Vento
Vento, vento
(Chico Buarque/1998)
domingo, 14 de setembro de 2008
A velha juventude
E a avó contava à menina:
- Minha filha, os olhos envelhecem primeiro. Há de se preservá-los em tempo.
Meio-fim de festa
- 21.
- 21? 21 anos não sabe nada, o que vale é a energia!
(Gargalhadas geral)
***
sábado, 13 de setembro de 2008
Diálogo V # Cuidado
- Ah, não se passaram tantos dias assim.
- O suficiente para eu ligar.
- Você sempre foi muito ansioso.
- Está muito ocupada estes dias?
- Normal.
- Então, vem amanhã à noite. Wally quer te conhecer, já mostrei uma foto sua para ele.
- Eu não sei se...
- Tem outro compromisso? Pode ser mais tarde, se você quiser.
- ...
- Que foi, Clara? Não quer vir?
- Nosso último encontro foi tão estranho.
- Era diferente. Você sabe. Faz tanto tempo já.
- Um mês e meio. Não sei se as coisas mudaram tanto assim.
(pausa)
- Vocês têm se falado?
- Pouco.
- Clara, eu não entendo. Você dizia...aliás, deixa para lá.
- Diga.
- Não importa.
- Diz.
- Estou sofrendo, Clara, eu te espero há muito tempo.
(silêncio)
- Você vem?
- Vou.
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
incomunicável. ”
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
(...)
Um mundo de desejos sufoca tanto quanto a cela branca de um hospício. Dentro dele, viveria surda de um lado a outro, em vão, debatendo-me. Em toda parte, seriam gritos: eles, os meus próprios desejos, a me enlouquecer.
domingo, 7 de setembro de 2008
Na caixa de cartas: uma correspondência simples
O belo não precisa de máscaras para existir, pode ele ser o motivo de tudo e valer a pena. Se faz o que acho, sofre o não por medo de sofrer o sim. Não entendo como: isto realmente lhe faz sentido?